Na semana passada, o ministro repassou três investigações contra o ex-presidente Lula e uma investigação contra o deputado federal cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), baseadas nas delações da Odebrecht, à Justiça Federal em São Paulo e no Distrito Federal.
Sem citar um caso específico ou o Ministro Fachin, Moro mencionou que separar os processos prejudica a Justiça, já que as ações da Lava Jato têm fatores que as interligam.
"Diante de um conjunto de crimes praticados no mesmo contexto e que contam com um acervo probatório comum, a forma errada de lidar com eles é separar todos os processos e provas e pulverizar perante o território nacional, de forma que cada Juízo fique com um pequeno pedaço e que seja de difícil compreensão sem a visão do todo", escreveu Moro.
Para o juiz de Curitiba, "a forma correta, no que se refere aos crimes praticados no âmbito do esquema criminoso envolvendo contratos da Petrobras é concentrá-los no Juízo prevento [a 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná], o presente, portanto".
A assessoria de imprensa de Fachin informou que o ministro não iria comentar a decisão do Juiz Moro.
Na decisão de 20 de junho, Fachin acolheu o argumento das defesas de Lula e Cunha de que os casos não tinham relação direta com a Operação Lava Jato, a cargo de Sérgio Moro.
Esse, inclusive, é um dos argumentos usados pela defesa de Lula para considerar o Juiz Moro incompetente para julgar o processo, pronto para sentença, em que ele é réu acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ligação com um esquema de corrupção envolvendo três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras.
Aproveitar os elementos
Em decisões nas quais determinou a redistribuição para outros Estados de processos originalmente enviados a Sérgio Moro, o Ministro Edson Fachin tem determinado ser possível aos procuradores da Lava Jato responsáveis pelas investigações em Curitiba aproveitar provas e informações das investigações que foram redistribuídas.
"A conclusão ora exposta, frise-se, não importa na impossibilidade de utilização dos elementos de informação ora colacionados, como prova emprestada, caso o órgão acusatório repute imprescindível para a formação da sua opinio delicti, a ser requerida, entretanto, perante a autoridade judiciária competente", escreveu Edson Fachin na decisão que retirou de Moro três investigações contra Lula e Cunha.
Nas decisões, o Ministro Fachin tem citado entendimento do STF em processos anteriores de que o fato de a investigação ter origem num mesmo acordo de delação premiada, como o da Odebrecht, neste caso, não é suficiente para que todos tramitem sob a responsabilidade do mesmo juiz, na primeira instância, ou relator no STF.
Os processos repassados
As três investigações contra o ex-presidente Lula tratam do suposto pagamento de uma "mesada" pela Odebrecht a um irmão do ex-presidente (processo remetido a São Paulo), e da liberação de empréstimos do BNDES à Odebrecht em Angola e do pagamento de propina nas usinas de Santo Antônio e Jirau (remetido ao Distrito Federal).
A investigação contra Eduardo Cunha trata de suposta tentativa de obstrução da Justiça, por meio da sugestão à Odebrecht de que fosse contratada uma empresa para investigar supostas inconsistências nos depoimentos dos delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, dois dos principais colaboradores da Lava Jato. O caso foi remetido por Edson Fachin à Justiça Federal de Brasília.
Tanto o ex-presidente Lula quanto Eduardo Cunha têm negado a prática de qualquer das irregularidades narradas pelos delatores.
Cunha já foi condenado a 15 anos de prisão por Sérgio Moro sob a acusação de ter recebido propina no esquema de corrupção da Petrobras. O ex-deputado também responde a outras duas ações criminais e a uma quarta por improbidade administrativa. Eduardo Cunha também tem negado a prática de qualquer irregularidade.
Já o ex-presidente Lula aguarda sua primeira sentença. O Juiz Sérgio Moro está apto para proferir sua decisão desde a última quarta-feira (21).