De quatro em quatro anos uma epidemia endêmica assola o Brasil e se alastra por todo tecido social brasileiro:
o fato de milhões de cidadãos brasileiros concentrarem suas atenções para "o Brasil entrar em campo", "fazer
bonito" e vencer a Copa do Mundo, como se isso pudesse ser um fator que contribuísse para o país se tornar
verdadeiramente grande.
Ufanando-se do inufanável estes mesmos milhões dizem:
- Somos o único país do mundo pentacampeão de futebol.
Enquanto estes milhões de brasileiros seguem se anestesiando da realidade política e social, a ponto de cogitar
que uma Copa do Mundo nos faz um país melhor ou fazendo força para crer que 22 bobos (11 de um lado e 11
de outro) mudarão os destinos da nação, recente pesquisa que concluí aponta que o Canadá possui 22 (vinte e
dois) prêmios Nobel e um dos melhores sistemas de educação do mundo. O Canadá só está "atrás", em termos
de educação, da Finlândia, o país com o melhor sistema educacional do planeta.
Estes dois países têm algo em comum: não disputarão a Copa do Mundo e nunca venceram alguma.
Lógico, os canadenses e finlandeses, verdade seja dita, estão pouco se lixando para o evento da FIFA, porque
os resultados que já obtiveram, sem calçar chuteiras, são sentidos muito além das 4 linhas de um patético
estádio de futebol.
Se fosse possível eu trocaria, de pronto, as 5 (cinco) Copas do Mundo que temos pela metade dos resultados
sociais e políticos do Canadá e da Finlândia.
Como, infelizmente, isso não é possível, resta dizer o óbvio, o que seja, a falta de autocrítica de milhões de
brasileiros é, além de doentia, a revelação de que somos, em termos de uma escala de desenvolvimento do
pensar e do ser, verdadeiros aborígenes, haja vista milhões de brasileiros acharem que se tornando um
"pinheirinho de junho" recheado de objetos de lojas de R$ 1,99 (cornetas, apitos, mantas e perucas verde-amarelas)
haverá de resultar em alguma mudança da nossa triste realidade social e política.
Outrora era a Pelézificação (e sua prole de filhos ainda não reconhecidos), depois a Gersificação (instituição da
Lei de Gérson), depois a Romanização (em que todos eram chamados de "peixe"), depois a Ronaldização (do
cabelo cascão), depois a Zagalização (do "vão ter que me engolir") e mais recentemente a Neymarização (do 5°
metatarso, que se tornou o "osso mais importante do mundo").
Isso, francamente, não mudará absolutamente nada. Mas, certamente, nos revelará para o mundo, como
realmente somos, ou seja, um país que segue preferindo a anestesia social e política, o pão e circo, a
demonstrar que aprendeu priorizar suas verdadeiras necessidades.
Os "gênios da bola" jamais serão os gênios que um país precisa diariamente para colocar em pauta suas
prioridades.
Nem mesmo se vencermos uma Copa do Mundo nos fará protagonistas de algo relevante, nem tampouco
coadjuvantes do nosso próprio destino, e sim, meros objetos.
Mais, e se vencermos, o "massacre midiático" a que estaremos sujeitos por meses, contribuirá, e muito, para
procrastinarmos nossas verdadeiras prioridades como país.
Só um lobotomizado ou um acéfalo credita todas suas fichas de felicidade a uma camisa com o escudo da CBF
ou do COB, diga-se de passagem, ambas entidades, verdadeiras máfias, a ponto da Justiça manter presos seus
maiores "expoentes", Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero e Carlos Arthur Nuzman, por descomunal
envolvimento em casos de corrupção ou de pagamento de propinas para comprar resultados ou a sede dos
jogos olímpicos.
Os escudos da CBF e do COB são as desonras do que uma vez significou a camisa verde-amarelo das
seleções brasileiras.
O Brasil só avançará e conseguirá evoluir como país, quando seu povo deixar de aguardar o "pacote cair do
céu", quando ele deixar de querer encontrar o próximo Sassá Mutema Salvador da Pátria, quando ele decidir ser
ator e não expectador, quando ele decidir realmente se envolver como parte do processo.
Quando os cidadãos de bem se transformarem, verdadeiramente, em agentes de mudança propositivos, com
coragem e constância de propósito, daremos um grande passo como país.
As eleições de outubro devem ser nosso maior foco se quisermos trazer novas referências como agentes de
mudanças.
E é recomendável que os brasileiros assumam e avoquem para si mesmos o fato de que podem, e muito, serem
os causadores desta mudança.
Quiçá, a iniciar por "separar o joio do trigo", a não acreditar em políticos "embalados como produtos de
marketing", a não se permitir enganar por quem nunca fez algo em prol de sua cidade, de seu Estado ou de seu
país, mas em breve irá ter o despeito de lhe pedir um "voto de confiança", bem como a rejeitar todos que já
tiveram vez e voz, mas pouco ou nada fizeram para o que se concebe por bem comum.
É hora de mudar Brasil.
E isso tem pressa.
texto de Pedro Lagomarcino, advogado.