domingo, 14 de maio de 2017

‘Dilma não confia em ninguém e acha todo mundo burro’, diz delatora

A delação premiada de Mônica Moura revela detalhes da convivência da petista com a empresária e seu marido, o marqueteiro João Santana

Dilma Rousseff era uma presidente da República que não confiava em ninguém e achava todo mundo “burro”, disse em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF) a empresária Mônica Moura. A delação premiada de Mônica revela detalhes da convivência da petista com a empresária e seu marido, o marqueteiro João Santana – o casal foi responsável pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014.

“A Dilma não confia em ninguém e tem um problema grave: ela não confia na capacidade de ninguém. Ela acha que todo mundo é burro, é incapaz”, disse Mônica aos procuradores.
“Ela se cercava de um monte de gente – não quero ser grosseira – , mas de gente sem capacidade, porque é aquele tipo de pessoa que não confia nas pessoas: não se cerca de gente brilhante, porque tem medo de ser ofuscada, entendeu?”, completou.
A relação de Dilma com João Santana era diferente, frisou Mônica, já que a petista tinha confiança na capacidade do marqueteiro de “pensar”. Além de dar conselhos à então presidente, João elaborava discursos em rede nacional de rádio e televisão – um palanque eletrônico usado com frequência para anunciar medidas de impacto – e batizava programas do governo petista. “Ela recorria a ele sempre”, afirmou Mônica.
Segundo a empresária, o casal não cobrava pelo trabalho nos pronunciamentos, apenas repassando para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República os custos de produção com a equipe, luz e câmera. A logomarca criada por João Santana ao governo Dilma foi um “presente”.
Sobre a primeira campanha de Dilma à Presidência, em 2010, a empresária reconheceu que foi uma eleição “dificílima”, já que todo mundo apostava na derrota da petista. “Era impossível, um poste realmente pra eleger”, admitiu.
De acordo com a delatora, João Santana era tão influente no governo que Mangabeira Unger, na época ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, recorria ao marqueteiro para conseguir uma agenda com Dilma Rousseff durante o segundo mandato.
‘Pátria educadora’. Na época, Mangabeira estava cuidando do programa “Pátria Educadora”, mote da segunda gestão de Dilma, e se envolveu nos bastidores numa disputa de protagonismo político com o Planalto e o então ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro.
“O Mangabeira chegava ao ponto de pedir ao João que conseguisse que a Dilma recebesse ele. E a Dilma, ‘Eca’, ‘Ai que saco’, ‘Ele é chato, eu não quero’, ‘Eu não guento'”, relatou a delatora.
Os problemas de Mangabeira se agravaram quando ele decidiu incluir no programa uma proposta de diretrizes curriculares para a Base Nacional Comum da Educação, que define o que se espera que alunos aprendam em cada etapa da educação básica. “Autoritário” e “megalomaníaco” foram alguns dos adjetivos usados pela cúpula palaciana para descrever a atuação de Mangabeira à frente da pasta.
Isolado do governo, Mangabeira acabou entregando a sua carta de demissão em setembro de 2015. Procurada pela reportagem, a assessoria de Dilma disse que não se pronunciaria.
conteúdo: Estadão

Lula recebeu alerta sobre corrupção na Petrobras ainda no seu governo

Embora tenha afirmado perante o juiz Sergio Moro que demitiria toda a direção da Petrobras caso alguém o informasse sobre a existência de um esquema de corrupção na estatal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu importantes alertas, ainda no exercício do mandato, de práticas suspeitas na companhia, mas não agiu. 

No interrogatório da última quarta-feira, na sede da Justiça Federal em Curitiba, questionado pelo procurador Roberson Pozzobon, que perguntou se ele tinha conhecimento de corrupção na Petrobras e de repasse de dinheiro ao PT, Lula falou:

— Se, em algum momento, um dos 204 milhões de brasileiros chegasse ao presidente da República e dissesse "tem um esquema de propina na Petrobras", seria mandada embora a diretoria inteira da Petrobras — disparou Lula.

Mas houve avisos, inclusive oficiais. Em 2009, quatro obras da petroleira foram incluídas pelo Congresso numa lista de 24 projetos que deveriam ficar fora do Orçamento de 2010, sem verba, por terem sido flagradas com indícios de graves irregularidades em auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU). Em todos os casos, a suspeita era a mesma: preço muito acima do inicialmente orçado. Mas, no lugar de aceitar a decisão da Comissão Mista de Orçamento e determinar investigação na estatal, Lula vetou a inclusão das obras da Petrobras na lista e liberou os recursos. O ex-presidente alegou que a paralisação acarretaria em prejuízos e desemprego.

Das quatro obras liberadas pelo veto de Lula, três foram flagradas na Lava-Jato. Uma é a Refinaria Abreu e Lima, uma espécie de ícone da corrupção na estatal: de um custo inicial de US$ 2,4 bilhões, já ultrapassou US$ 23 bilhões; mesmo que opere à plena capacidade durante toda sua vida útil, deve ser deficitária. As outras duas são o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) e a modernização da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná. A quarta obra da lista era a implantação de um terminal em Barra do Riacho, no Espírito Santo, que, até agora, não apareceu nas investigações.

TCU QUESTIONOU TRANSPARÊNCIA NA PETROBRAS

Em 2009, os investimentos da Petrobras alcançavam R$ 44 bilhões, quase 60% do orçamento do Ministério das Minas e Energia. Além do sobrepreço, o TCU apontou ainda valores de referência inflados e pagamentos questionáveis, como o custo determinado para equipamentos parados ou em serviço.

Não bastasse isso, o TCU registrou em seus relatórios de 2009 enorme dificuldade de acesso aos documentos de licitações e valores contratados, que não foram fornecidos pela Petrobras. O órgão relatou obstrução dos trabalhos de fiscalização e chegou a convocar o então presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, para tentar obter as informações.

Naquele ano, a Refinaria Abreu e Lima estava só no começo. Os contratos somavam R$ 2,77 bilhões, mas o TCU só conseguiu analisar quatro deles, uma amostra de apenas R$ 347 milhões. Ainda assim, o sobrepreço identificado foi de R$ 121,6 milhões. No relatório da obra, o órgão afirmou que, enquanto a estatal lhe informava que a refinaria custaria US$ 4,05 bilhões, no site do governo federal o investimento estimado chegava a US$ 23 bilhões.

No contrato da Repar, refinaria que estava sendo modernizada, o TCU descobriu que o "preço secreto" da Petrobras, que serve como referência para avaliar as ofertas nas licitações, havia sido inflado, contaminando todos os contratos. Em R$ 8,6 bilhões de contratos analisados, o sobrepreço alcançava R$ 4,04 bilhões. "O cálculo do sobrepreço permite concluir que esse valor (da obra) pode ser reduzido à metade. A economia da metade desse valor seria seis bilhões de reais", afirmou em relatório.

Numa foto que mostra o Centro Integrado da Repar, anexa ao relatório, o TCU afirmava que o metro quadrado do prédio custou R$ 14 mil, enquanto um bom imóvel no centro de Curitiba custasse R$ 2 mil por metro quadrado. A Rodovia do Xisto, de acesso à refinaria, segundo o TCU, chegou a custar 164% a mais do que obras similares do DNIT, o departamento de obras rodoviárias do Ministério dos Transportes.

DUQUE E BARUSCO RESPONSÁVEIS POR LICITAÇÕES

Entre os responsáveis pelas licitações, estavam Renato Duque, ex-diretor de Serviços da estatal condenado a 51 anos de prisão na Lava-Jato, e o ex-gerente Pedro Barusco, que se tornou delator e devolveu quase US$ 100 milhões que arrecadou em propina. Ambos atuaram para o PT, de acordo com suas delações. Outro citado nas auditorias foi Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de Abastecimento que afirma ter arrecadado dinheiro para o PP.

No terminal Barra do Riacho, o TCU classificou a gestão da obra como temerária. Os quatro projetos da Petrobras foram parar na lista das obras com graves indícios de irregularidades, encaminhada ao Congresso, a quem cabe analisar o Orçamento da União.

Na reunião da Comissão Mista de Orçamento, que decidiria se as obras deveriam ou não receber recursos, senadores protestavam pois a Petrobras fez com a comissão o mesmo que fizera com o TCU: não levou à reunião as informações que poderiam indicar a existência de ilícitos.

— Nós precisamos que a Petrobras preste esclarecimentos não apenas ao TCU, mas, diante do que diz o TCU, preste esclarecimentos aos parlamentares nesta reunião porque nós precisamos tomar uma decisão — reclamou, à época, o ex-senador Almeida Lima (PMDB-SE), presidente da comissão.

Como não obtiveram informações detalhadas, os parlamentares acabaram incorporando o Comperj à lista inicialmente formada por somente três obras, todas com sobrepreços generalizados.

À época, o TCU apontava sobrepreço de R$ 140 milhões no Comperj. O pagamento por dias parados durante a terraplanagem alcançava R$ 151 milhões. O TCU chegou a afirmar que não era "de estranhar" que apenas 26,86% dos serviços tivessem sido executados porque o consórcio estava auferindo lucro muito maior com a verba indenizatória por paralisações do que pela execução da obra.

Todas as suspeitas, questionadas diretamente à empresa, não influenciavam o julgamento de Lula, que, em 2010, dizia conhecer bem as contas da companhia, a ponto de discursar, no batismo da plataforma P-57 da Petrobras, em Angra dos Reis.

— Houve um tempo em que a diretoria da Petrobras achava que o Brasil pertencia à Petrobras, e não a Petrobras ao Brasil. A ponto de ter presidente que dizia que era uma caixa preta. No nosso governo é uma caixa branca e transparente, nem tão assim, mas é transparente. A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer — afirmou o presidente.

A defesa de Lula não quis se manifestar. Luís Adams, chefe da Advocacia-Geral da União na época, afirmou que as discussões com a Petrobras eram sempre difíceis, pois a estatal alegava sigilo comercial para não apresentar todas as informações, já que é empresa de economia mista. Além disso, também era questionada a tabela de preços de mercado usada pelo TCU, pois a empresa alegava que os preços variavam de acordo com o local da obra e tinha suas próprias tabelas de referência.


'Eu confio no Palocci. Duvido que ele vá dizer que o Lula mandou fazer alguma coisa', diz Gilberto Carvalho

"Acho bom todo mundo fazer delação logo. Para acabar com esse sofrimento de uma vez". O desabafo é do ex-ministro Gilberto Carvalho, principal escudeiro de Lula em seus oito anos de governo. Na tarde de sexta-feira, ele parecia abatido com a confirmação de que Antonio Palocci será o próximo a entregar ex-companheiros à Lava Jato.

Um ano depois do impeachment, o PT voltou a viver uma semana de péssimas notícias. Na quarta, Lula teve que se sentar no banco dos réus em Curitiba. Na quinta, ele e Dilma Rousseff foram fritados por seus marqueteiros de campanha. Na sexta, seu ex-ministro da Fazenda deu a partida para mais uma delação.

"Eu confio no Palocci. Duvido que ele vá dizer que o Lula mandou fazer alguma coisa", disse Carvalho. "O Lula nunca quis saber de dinheiro. Ele dizia: 'Tem coisa que eu não quero saber. Eu não quero saber'".

Perguntei por que o ex-presidente se recusaria a conhecer a origem do dinheiro que bancava suas campanhas. "O candidato não pode fazer tudo. É claro que ele espera que ninguém faça bobagem", respondeu.

Que tipo de bobagem? O petista esclareceu que se referia a caixa dois. "É um erro gravíssimo que nós cometemos. Nós seguimos um padrão que condenávamos", disse. Lembrei que o PT já havia confessado o crime no mensalão, mas voltou a praticá-lo nas eleições seguintes. "Foi repetido. Infelizmente", afirmou Carvalho.

O ex-ministro disse que as acusações contra Lula são "ridículas" e que a Lava Jato abusa da prisão preventiva para forçar os réus a delatar. "É uma forma de tortura. Se o cara não confirma a tese dos procuradores, passa a ser visto como inimigo."

Carvalho definiu a delação dos marqueteiros como "uma tragédia". "O João Santana não vai destruir o PT. Mas é claro que isso nos prejudica", reconheceu. "O imperdoável é o cara mentir. Eu não perdoo, mas tenho um grau de compreensão pela tortura que ele sofreu. O que sinto é um misto de tristeza e decepção".

POPULISMO BEBERRÃO DE MENTIRAS - REFLEXÕES SÓBRIAS

No último fim de semana de abril, dois textos me chamaram a atenção. Um deles é do jornalista que assina a segunda página do jornal Zero Hora. As opiniões de Tulio Milman tendem para a esquerda. É um dos tantos que, convictamente, ajudaram a pavimentar o acesso petista ao poder. Na referida coluna, porém, Tulio Milman confessa seu erro afirmando que "os grevistas não sabem, mas é contra Lula que estão protestando". Extraio do texto o seguinte segmento:
"A realidade só se revelou mais tarde, com o colapso ético e prático de um modelo corrupto e irresponsável, onde a gastança do dinheiro público e o descontrole geravam a ilusão de abundância. Qualquer modelo de desenvolvimento econômico só é eficiente se for sustentável. Não foi o que aconteceu. Difícil é explicar para milhões de brasileiros acostumados ao paternalismo e ao messianismo político.
Os anos de Lula e de PT não foram de prosperidade. Foram de irresponsabilidade e de desmando. Geraram um gigantesco passivo econômico e social. Os 14 milhões de desempregados no Brasil são a herança viva desse delírio, no qual muita gente, inclusive eu, embarcou. Cheguei a acreditar que Lula era uma solução viável de diálogo entre opostos. Na verdade, era apenas um monólogo sedutor e vazio."
Como se percebe, o jornalista está falando sobre a perigosa sedução do populismo, que, entre outras sinistras emanações, se expressa em paternalismo e messianismo, nos quais ele confessa haver embarcado e dos quais desembarca à vista do desastre social, econômico, político e fiscal a que nos conduziram.
O outro artigo é do filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, e foi publicado no Estadão do dia 29/04. Aborda a impropriedade do uso do vocábulo "bolivarianismo" para designar o sanatório político que está varrendo a Venezuela para o monturo ideológico onde jazem Cuba e Coreia do Norte. Desse mal, Simón Bolívar é inocente. Nas primeiras linhas, porém, Roberto Romano fez estas interessantes observações sobre populismo:
"O elogio da ignorância, no Brasil, resulta de uma síntese efetuada por intelectuais, políticos, clérigos. Tal operação tem nome comum: populismo. Não se trata apenas de ideologia, existem populistas de esquerda, de direita, católicos, protestantes, muçulmanos. A demagogia, doença antiga, já na Grécia democrática recebeu seu nome de batismo. Após a queda do Império Romano, o apelo ao povo como árbitro supremo de todo poder e saber definiu movimentos de massa, fracassados ou bem-sucedidos. O romântico Michelet evoca a chusma popular como figura Christi, presença do Messias.
O populismo recusa a pesquisa para a descoberta do verdadeiro. A sua demagogia reúne em poucos chavões um arsenal tosco de propaganda. Os totalitarismos do século 20 levaram tal política ao absurdo. Goebbels, de um lado, os “jornalistas” do Pravda, de outro, abusaram do populismo em doses diárias, sorvidas pela multidão em padrões pantagruélicos. Afinal, “engolimos avidamente a mentira que nos lisonjeia, bebemos gota a gota a verdade que nos amargura” (Diderot)."
Agora, afirmo eu: no Brasil destes últimos 30 anos, a desgraça populista escolheu um partido para chocar seus ovos, se reproduzir e alcançar o poder. No caminho, arrastou setores expressivos da Igreja Católica, da mídia, do meio acadêmico, contaminando a alma do povo brasileiro. Agora, combate toda tentativa de estabelecer algum realismo na gestão do Estado e, através de seu mais tonitruante porta-voz, ameaça voltar ao poder. Só o Brasil sensato, formado majoritariamente por liberais e conservadores, por pessoas realistas, enfim, pode deter o avanço populista que - mau caráter e beberrão de mentiras como é - pisa no acelerador em tempos difíceis.
Percival Puggina

Sócios da Odebrecht voltam a depor sobre Lula a procuradores



Emilio Odebrecht, patriarca da empresa que leva seu sobrenome, seu herdeiro Marcelo e o ex-diretor de relações institucionais da empreiteira Alexandrino Alencar voltaram a depor para a força-tarefa da Lava Jato.

Os três assinaram acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, homologado pela presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia em janeiro deste ano.

Emílio, Marcelo e Alexandrino foram convocados a depor novamente para dar mais detalhes sobre assuntos referentes a investigações envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Emílio e Alexandrino viajaram até Curitiba, há 15 dias, para falar com os procuradores. Marcelo está preso na Superintendência da Polícia Federal, na capital paranaense.


Fontes ouvidas pela reportagem disseram que os três tiveram de dar mais detalhes sobre as reformas no sítio Santa Barbara, em Atibaia (SP), frequentado pela família Lula. A propriedade rural pertence formalmente a Jonas Suassuna e Fernando Bittar, amigos de Fábio Luís Lula da Silva, filho do ex-presidente.

A Odebrecht participou de uma reforma nas dependências do sítio, em 2010, no final do último ano do mandato de Lula. A empresa gastou, segundo os delatores, mais de R$ 1 milhão em obras no local. A empresa fez os trabalhos em um mês. A reforma do sítio foi tema da delação dos três empreiteiros.

Os delatores também tiveram que complementar os depoimentos que fizeram sobre a contratação pela Odebrecht da empresa Exergia Brasil, que pertence a Taiguara Rodrigues dos Santos, sobrinho da primeira mulher de Lula.

Executivos da Odebrecht afirmaram que o ex-presidente intermediou negócio da construtora com empresa do sobrinho Taiguara, no âmbito de contratos em Angola, com financiamento do BNDES.

Os delatores afirmam porém que, apesar de a Odebrecht ter contratado a firma de Taiguara a pedido de Lula, os serviços foram efetivamente prestados pela empresa. De acordo com a delação de Marcelo Odebrecht, o parente de Lula criou a Exergia sem experiência na área de construção e somente para fazer uso da influência de Lula.

Esta é a primeira vez que se tem notícia de que delatores da Odebrecht estejam complementando depoimentos prestados na delação. Os últimos depoimentos haviam acontecido em 25 de janeiro, cinco dias antes da

OUTRO LADO

Lula tem negado todas as acusações. Em nota, seu advogado Cristiano Zanin afirma que "Lula é inocente como demonstraram as inúmeras testemunhas já ouvidas com o compromisso de dizer a verdade".

"A Lava Jato investe numa fábrica de delatores para falarem o nome de Lula em troca de vantajosos benefícios. Mas a palavra de delator não tem valor de prova, segundo a lei, ao contrário da palavra de testemunhas", diz.

A Odebrecht disse que "entende que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos". Acrescentou que "a empresa está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".


Trechos de delação da Odebrecht que citam o Judiciário estão, sob sigilo, nas mãos de Fachin

O ministro Edson Fachin tem, sob sua guarda, termos da delação da Odebrecht ainda sigilosos que envolvem integrantes de diversas esferas do Judiciário. As informações prestadas por delatores da empreiteira sobre nomes da Justiça e de alguns de seus parentes estão entre os 25 pedidos de inquérito formulados pela Procuradoria-Geral da República que ainda não foram divulgados pelo relator da Lava Jato no STF. Os documentos já despertam insegurança no STJ e no TCU, por exemplo.

A relatoria da Operação Lava Jato fez com que Fachin mudasse não só seus hábitos pessoais, como também o esquema de compartilhamento de informações dentro de seu gabinete.

O ministro, famoso pelos costumes simples, não almoça mais com a mesma frequência no bandejão do Supremo. A segurança da corte também ampliou o esquema de proteção a Fachin em áreas públicas, como aeroportos.

O magistrado agora só embarca em aeronaves direto na pista de decolagem, sem circular pelos saguões. Seu apartamento em Brasília e sua residência em Curitiba também tiveram os serviços de proteção revisados e ampliados.


E LULA ACORDOU NUM SÍTIO QUE NÃO ERA DELE

Para contar desde o começo essa história do sítio de onde Lula se autodespejou, eu preciso começar por seu personagem mais estranho - Fernando Bittar. Ele é dono de um local aprazível onde não chegava telefonia celular. A propriedade precisava de cuidados e reformas para cuja execução não dispunha de renda suficiente. Mas não se deixou abater por isso.
 Disposto a transformar o Santa Bárbara num pequeno paraíso serrano, para onde nunca ia nem iria, o remediado Bittar, em vez de pedir orçamento para três empreiteiros e escolher o de menor preço, como faríamos nós, perguntou a seus universitários botões: qual é a maior empreiteira do país, universitários? E os botões, em coro lhe responderam: a Odebrecht. Não havendo discordância entre os informantes, Fernando decide. Que seja a Odebrecht.
 A poderosa construtora de hidroelétricas, portos e rodovias, despacha engenheiros para Atibaia. E a obra foi feita, ficando pronta bem antes da Linha 6 do metrô de São Paulo. Mas faltavam detalhes. Se alguma vez na vida você tentou falar com empresa de telefonia celular por telefone, deve saber o quanto isso é difícil. Imagine, então, conseguir dela a instalação de uma torre, só para você, em meio aos matagais e matacões de despovoada serra. Impossível? Não ao Fernando. Ele ligou para a OI e conseguiu sua torre. Também a velha cozinha não estava legal. Era preciso melhorar aquela parte da casa. Para a impressionante e complexa tarefa, nosso herói chamou outra grande empreiteira, a OAS, terceira no ranking das maiores do país.
Agora, pasmem. Quando tudo ficou pronto, num lance de fazer inveja a João Pedro Stédile, o ex-presidente Lula irrompe no Santa Bárbara, sem foices nem bandeiras vermelhas, com aquela entourage que a nação lhe disponibiliza vitaliciamente para que nunca mais na vida necessite ir até a adega buscar uma garrafa. E de tudo, a partir daí, usou e abusou em 111 visitas até seu autodespejo.
Gostaria de haver assistido aquela alvorada de uma nova consciência na alma de Lula. Só pode ter sido algo assim. Veja se não. Ele acordou, esfregou os olhos, contemplou assustado seu entorno, sacudiu a galega até despertá-la e disparou: "O que estamos fazendo aqui, mulher? Não me chamo Fernando e não moro em Atibaia! Vamos embora deste lugar!". E se foram para nunca mais voltar.
Nem Luiz Inácio, nem Fernando. Só alguns milhares de garrafas de vinhos finos, se não resgatadas, dormem serenas na fria encosta da Serra do Itapetinga.

Percival Puggina

UMA RUÍNA MORAL

Quanto mais Lula se desdobra em artifícios retóricos, como quem trata de escapar, em ziguezague, da artilharia dos fatos, mais parecido fica com o que se empenha em afirmar que não é. Assistindo trechos de sua inquirição perante o juiz Sérgio Moro, lembrei-me de uma entrevista dele, em Portugal, à jornalista Cristina Esteves, da RTP, em abril de 2014. Nos últimos momentos da conversa, veio uma pergunta sobre o mensalão. A resposta de Lula tem tudo a ver com seu comportamento dia 10 em Curitiba. Transcrevo: "O tempo vai se encarregar de provar que o mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão. Também não vou ficar discutindo decisão da Suprema Corte. Mas esse processo foi um massacre que visava destruir o PT e não conseguiu". Em sequência, questionado sobre o fato de estarem detidas pessoas próximas a ele - como o ex-ministro José Dirceu e o ex-deputado José Genoino - saltou fora. "Não se trata de gente da minha confiança. Tem companheiros do PT presos".
Esse "tchau queridos", proclamado em Lisboa, antecedeu o "tchau querida" do telefonema sobre a mensagem do Bessil; antecedeu o abandono dos parceiros encarcerados posteriormente, a quem e sobre quem nada tem a dizer; e antecedeu a tentativa de transformar a pacata Marisa Letícia em condutora de providências escandalosas que ele não tem como explicar e que com ela sepultou.
Eis o homem que governou o país sem ninguém de sua confiança por perto, cuja proximidade funcionava como um toque de Midas, gerando inesperadas fortunas, mesadas, pensões, negócios, a quem os amigos davam tudo e que nega lhes haver alcançado a menor vantagem. Eis o homem que se agita no partidor, disposto a concorrer à presidência. Sua anunciada campanha para desfazer as intrigas do mensalão e sua convicção sobre a natureza política do referido processo nunca passaram de peças de discurso.
Tudo isso porque a Lula não interessam os fatos. Os desarranjos políticos, econômicos e sociais a que dá causa se agravam e prolongam precisamente porque sua conduta contamina o juízo e o discernimento moral de dezenas de milhões de pessoas. A exemplo dos grandes ícones do populismo, ele trata o povo que o segue como massa da qual usa e abusa para objetivos pessoais, subtraindo do repertório mental dessas multidões valores sem os quais é impossível operar adequadamente uma democracia constitucional. Os recentes atos de violência contra o direito de ir e vir, a queima de pneus e de ônibus, o abandono de preceitos essenciais à vida civilizada e os anátemas lançados contra a Lava Jato são consequências do que acabei de descrever.
A patética inquirição levada a cabo em Curitiba pode ser parodiada com apenas uma frase: "Doutor, vou lhe confessar. Eu não sou eu. Eu sou um amigo meu, que, se conheço, não lembro".
Percival Puggina

Dilma e Lula só estarão seguros na prisão após delação do grupo JBS-Friboi, diz ex-dirigente do PT

A notícia de que a holding brasileira J&F Participações, proprietária da empresa JBS-Friboi, iniciou as tratativas com o MPF (Ministério Público Federal) para negociar o fechamento de acordos de leniência e de delação premiada caiu como uma bomba no PT neste final de semana. As informações sobre a tentativa de um acordo do Grupo foram publicadas pelo jornal “ Folha de S.Paulo ” e deixou a cúpula do PT em polvorosa. Após o depoimento devastador do casal de marqueteiros do partido, João Santana e Monica Moura, após a informação de que o ex­-ministro da Fazenda Antonio Palocci retomou seu acordo de delação com a Lava Jato, a notícia sobre a delação da JBSFriboi foi definida como fatal para Lula e Dilma. A publicação adiante que pelo menos duas reuniões já foram realizadas entre representantes da JBS e procuradores do MPF. A empresa já teria, inclusive, feito contato com o advogado Luciano Feldens – especialista em delações premiadas e responsável pelo acordo feito por Marcelo Odebrecht. A operação Bullish, deflagrada na semana passada pela Polícia Federal para investigar irregularidades e fraudes em empréstimos concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) precipitou ainda mais o grupo para um acordo rápido. A colaboração com as investigações da PF tornou-­se imprescindível, ante a possibilidade de ver a empresa afundar com a prisão de seus donos e executivos. Lula, Dilma e o PT serão profundamente atingidos pela delação que vem por aí.

"São tantas denúncias graves, que em pouco tempo, o único lugar seguro para Lula, Dilma e muita gente do PT será a prisão. A revolta e a indignação da sociedade com a revelação de tantos crimes perpetrados pelos petistas pode gerar um clima de intolerância acima do razoável ", analisa um ex­dirigente do PT de São Bernardo do Campo, São Paulo. Segundo o jornal, Joesley Batista estaria disposto a assumir os crimes envolvendo Lula e Dilma no BNDES para deixar seu irmão Wesley Batista livre para comandar a empresa. São tantas denúncias graves, que em pouco tempo, o único lugar seguro para Lula, Dilma e muita gente do PT será a prisão. A revolta e a indignação da sociedade com a revelação de tantos crimes perpetrados pelos petistas pode gerar um clima de intolerância acima do razoável.

 Segundo o jornal, Joesley Batista estaria disposto a assumir os crimes envolvendo Lula e Dilma no BNDES para deixar seu irmão Wesley Batista livre para comandar a empresa.


Dilma afirma que não há como provar que ela sabia de propina em sua campanha:" Só eu sabendo o que quem sabe sabe"

Como sempre de forma desastrosa, a ex­-presidente Dilma Rousseff tentou refutar as últimas declarações do casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura sobre seu conhecimento dos esquemas criminosos que irrigaram suas campanhas. A petista participou de um evento do PT em Porto Alegre na noite de sexta­-feira (12) ao lado dos senadores do PT Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ) e apresentou o esboço de uma narrativa, bastante confusa, sobre a impossibilidade da Justiça provar se ela sabia ou não que se elegeu com dinheiro roubado da Petrobras: "Pra mim provar que eu não sabia [de pagamento de propina e caixa dois] é a prova negativa, é a coisa mais impossível que tem. Só no processo 470 [mensalão] houve essa definição do que era a prova negativa. Como que eu provo que eu não sei? Só eu sabendo o que quem sabe sabe", explicou a petista, que disse que a "segunda etapa do golpe" é a criminalização do PT e dela.


A "criminalização do PT" também é uma alegação recorrente dos petistas, que no entanto, não conseguem explicar como seria possível criminalizar o PT e seus membros, caso estes não tivessem cometido nenhum crime. No caso do PT e de seus membros, eles não estão sendo criminalizados. Seria mais apropriado afirmar que eles próprios se "incriminaram". Os inquéritos decorrentes das delações dos executivos da Odebrecht e do casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura já foram remetidos para Curitiba, aos cuidados do juiz federal Sérgio Moro. Quem sabe a petista consegue convencer o responsável pelos processos da Operação Lava Jato que "Só (ela) sabendo o que quem sabe sabe que seria possível provar que ela não sabia de nada". Alguém não entendeu nada um pouco muito?