domingo, 4 de junho de 2017

‘Se queremos um País livre de corrupção, essa deve ser um crime de alto risco e firme punição’, dizem procuradores ao pedir condenação de Lula



Os procuradores da República da força-tarefa da Operação Lava Jato defendem a necessidade de “firme punição” aos crimes de corrupção no País, ao pedirem a condenação de Luiz Inácio Lula da Silva, no processo do tríplex do Guarujá (SP). Em alegações finais entregues na sexta-feira, 2, ao juiz federal Sérgio Moro, eles pediram pena de prisão em regime fechado e o pagamento de uma multa de R$ 87 milhões para o ex-presidente.

“Estamos diante de um dos maiores casos de corrupção já revelados no País”, registra o documento, com 334 páginas e assinado pelos 13 procuradores da força-tarefa.

“Não se pode tratar a presente ação penal sem o cuidado devido, pois o recado para a sociedade pode ser desastroso: impunidade; ou, reprimenda insuficiente.”

Nesse processo, o Ministério Público Federal acusa Lula de receber R$ 3,7 milhões em benefício próprio – de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012, por contratos na Petrobrás.

A acusação aponta que Lula recebeu propinas da OAS por meio da ampliação, reforma e compra de equipamentos para o apartamento 164-A, no edifício Solaris, do Guarujá, e do custeio do armazenamento de bens do acervo presidencial, de 2011 a 2016, pela empreiteira.

Alegações finais são a parte derradeira do processo, em que o Ministério Público, que acusa, e as defesas apresentam suas argumentações e pedidos a serem considerados pelo juízo.

O documento foi entregue ao juiz federal Sérgio Moro, dos processos da Lava Jato em primeira instância, em Curitiba. Será o primeiro processo criminal contra Lula a ser julgado na 13ª Vara Federal, na capital paranaense – origem do escândalo Petrobrás, que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff, de forma indireta, e colocou o ex-presidente no banco dos réus.

Proporcionalidade. Os procuradores da Lava Jato defendem no pedido de condenação de Lula que quanto mais pesada a pena, menor as chances de os crimes de corrupção ocorreram.

“A criminologia voltada ao estudo dos “crimes de colarinho branco” demonstra que – ao contrário do que afirmam acriticamente alguns, com base na criminologia genérica – o montante da pena e sua efetividade da punição constituem relevantes fatores para estancar o comportamento criminoso.”

Além de Lula, são réus os empreiteiros José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, os executivos da empresa Agenor Franklin Martins, Paulo Gordilho, Fábio Yonamine, Roberto Ferreira e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto.

“Se queremos ter um país livre de corrupção, essa deve ser um crime de alto risco e firme punição, o que depende de uma atuação consistente do Poder Judiciário nesse sentido, afastando a timidez judiciária na aplicação das penas quando julgados casos que merecem punição significativa, como este ora analisado.”

Se for condenado por Moro e a sentença mantida na segunda instância, no caso, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), em Porto Alegre (RS), Lula pode até ser preso.

“O crime de corrupção é um crime muito difícil de ser descoberto e, quando descoberto, é de difícil prova. Mesmo quando são provados, as dificuldades do processamento de ‘crimes de colarinho branco’ no Brasil são notórias, de modo que nem sempre se chega à punição. Isso torna o índice de punição extremamente baixo”, afirmam os procuradores da Lava Jato.

COM A PALAVRA, A DEFESA DE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Os advogados de Lula, Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins, divulgaram nota em que afirmam que Procuradoria insiste “em teses inconstitucionais e ilegais e incompatíveis” para “perseguir Lula e prejudicar sua história e sua atuação política”.

Leia a íntegra da nota:

“As alegações finais do MPF mostram que os procuradores insistem em teses inconstitucionais e ilegais e incompatíveis com a realidade para levar adiante o conteúdo do PowerPoint e a obsessão de perseguir Lula e prejudicar sua história e sua atuação política.

As 73 testemunhas ouvidas e os documentos juntados ao processo – notadamente os ofícios das empresas de auditoria internacional Price e KPMG – provaram, sem qualquer dúvida, a inocência de Lula. O ex-Presidente não é e jamais foi proprietário do triplex, que pertence a OAS e foi por ela usado para garantir diversas operações financeiras.

Nos próximos dias demonstremos ainda que o MPF e seus delatores informais ocultaram fatos relevantes em relação ao triplex que confirmam a inocência de Lula – atuando de forma desleal e incompatível com o Estado de Direito e com as regras internacionais que orientam a atuação de promotores em ações penais.

Cristiano Zanin Martins e Valeska Teixeira Martins”

COM A PALAVRA, A DEFESA DE PAULO OKAMOTTO

O advogado Fernando Augusto Fernandes, que defende o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto divulgou nota em que afirma acreditar na absolvição do cliente.

“Fernando Augusto Fernandes, advogado de defesa de Paulo Okamotto ressalta que o processo demonstrou não existir qualquer ilegalidade em relação ao armazenamento do acervo do ex-presidente Lula, por isso, acredita na absolvição de seu cliente.”

Em gravação, Rocha Loures diz que os R$ 500 mil eram destinados a Temer


O jornalista Ricardo Noblat, do jornal O Globo, classifica como "tiro no pé" de Temer a decisão de trocar ministros e assim deixar seu ex-assessor sem foro privilegiado. Rocha Loures foi preso e, caso opte por fazer uma delação premiada, terá que entregar muita coisa, já que a Polícia Federal já sabe muito sobre ele. Noblat menciona, por exemplo, que há uma gravação em que Rocha Loures afirma que os R$ 500 mil reais da mala eram para o presidente. 

Leia abaixo o texto de Ricardo Noblat: 

Quantos tiros mais no pé o presidente Michel Temer haverá de se dar até que um deles o aleije em definitivo e o impeça de completar o mandato subtraído de Dilma Rousseff?

O mais recente dos tiros não tem uma semana. Às pressas, sem refletir sobre as consequências do seu gesto, Temer anunciou a terceira troca de ministro da Justiça em pouco mais de um ano.

Saiu Osmar Serraglio (PMDB-PR), que assumira o cargo há menos de quatro meses. Entrou Torquato Jardim que até então era o ministro da Transparência.

Temer imaginou que Serraglio aceitaria o lugar deixado vago por Jardim e que tudo ficaria em paz. Esqueceu-se de combinar com ele. Serraglio preferiu reassumir o mandato de deputado. POU! Deu-se o pior.

A volta de Serraglio à Câmara desalojou dali seu suplente, Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial de Temer, o homem filmado pela Polícia Federal correndo com uma mala de dinheiro em São Paulo.

A partir de amanhã, Rocha Loures estará em um novo endereço – a Penitenciária da Papuda, em Brasília. Uma vez que sem mandato perdera o direito a foro especial, foi preso ontem. E na ocasião, chorou muito.

Boa parte do que Rocha Loures tem para contar, a Procuradoria Geral da República (PGR) já sabe. O próprio Rocha Loures contou em conversas  gravadas pela Polícia Federal que virão a público em breve.

Em uma delas, Rocha Loures confessa que o dinheiro da mala, R$ 500 mil reais, recém-saído dos cofres do Grupo JBS, era destinado a Temer. E que ele não passava de um mero portador.

A PGR quer mais detalhes a respeito. E novas revelações para fechar de vez o cerco a Temer. Não será o julgamento das contas da chapa Dilma-Temer pela Justiça Eleitoral que selará a sorte do presidente.

Será o que está por vir – a denúncia que o procurador Rodrigo Janot oferecerá contra Temer ao Supremo Tribunal Federal por crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização criminosa.

Temer sangra desde que recebeu em audiência clandestina no porão do Palácio do Jaburu o empresário Joesley Batista, apontado por ele mais tarde como um sujeito bisonho, fanfarrão e sem importância.

Por que um presidente da República receberia um sujeito desses depois de se certificar de que ele fora admitido ali com nome falso? Por que revelaria sua satisfação com o fato de Joesley ter dito que se chamava Rodrigo?

De Rocha Loures, Temer disse mais de uma vez que se trata de uma boa pessoa, decente, muito preparada e filho de uma família com grande prestígio no Paraná. Acredita que ele foi vítima de “uma armação”.

O que dirá se ele o delatar? Talvez repita Lula, que diz que preso da Lava Jato delata para poder se safar. Lula omite que não basta delatar, tem que provar.

Com combate à corrupção, Brasil está se tornando um modelo para a América Latina, diz prêmio Nobel

O prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, analisa as mudanças na América Latina, com ditaduras chegando ao fim. Llosa destaca o Brasil e as conquistas no combate à corrupção: "Se conseguir, o enorme Brasil deixará de ser o eterno “país do futuro” que foi até agora e começará a ser um presente em marcha, modelo para o restante da América Latina".

Leia abaixo o texto de Mario Vargas Llosa:

Manuel Antonio Noriega, um dos mais corruptos e brutais entre os ditadores que já penalizaram a América Latina, acaba de morrer de câncer no cérebro na Cidade do Panamá, onde estava preso desde 2011, após cumprir 17 anos de prisão nos Estados Unidos e 5 anos na França por violações dos direitos humanos, colaboração com o narcotráfico, roubo, tortura, lavagem de dinheiro e mais uma longa lista de crimes. Ainda que tenha devolvido parte do que roubou, como consta de seu obscuro prontuário, é possível que suas filhas herdem uma boa quantidade de milhões que a Justiça de três países não conseguiu recuperar, espalhados pelo mundo em contas secretas. 

Tudo é obscuro e turvo na vida do célebre “Cara de Abacaxi” – assim apelidado por causa das marcas de varíola no rosto –, a começar pelo nascimento. Sabe-se que nasceu num bairro pobre da capital panamenha e tinha origem colombiana, mas a data do nascimento é incerta, pois ele mesmo a adulterou várias vezes por razões misteriosas, de modo que poderia ter 83 ou 85 anos quando morreu. O que é certo é que sua carreira sinistra começou à sombra de Omar Torrijos, cacique golpista que em 1968 depôs pelas armas o presidente panamenho eleito e iniciou a própria ditadura. Noriega foi seu braço direito e fez carreira meteórica na Guarda Nacional, até se autopromover a general. Em 1983, assumiu o poder sem necessidade de eleições e começou sua estrambótica odisseia.
Servia à CIA e ao castrismo, recebendo dinheiro secreto de ambos. Permitiu aos Estados Unidos estabelecerem um centro de espionagem no istmo, uma vez que era informante da DEA e simultaneamente trabalhava para o cartel de Medellín, que ocultava dinheiro em bancos panamenhos. Ao mesmo tempo, fazia gordos negócios com Fidel Castro e Moscou, aos quais vendeu 5 mil passaportes panamenhos para uso de seus agentes secretos em correrias pelo mundo. Chegou a ser popular na América Latina quando, brandindo um machete e rugindo “nem um passo atrás!”, encabeçava ruidosas manifestações anti-imperialistas de suas “Brigadas da Dignidade”.
Mas, ao mandar torturar e decapitar em 1985 o doutor Hugo Spadafora, célebre batalhador pelos direitos humanos, assassinato que provocou comoção no mundo inteiro, sua sorte começou a mudar. Havia jurado morrer de pé, combatendo; entretanto, quando os Estados Unidos invadiram o Panamá, correu a esconder-se na nunciatura, sem disparar um tiro. Ficou ali 12 dias, submetido dia e noite a uma grotesca sinfonia de música heavy metal, que detestava, com que os ocupantes ianques martirizaram seus ouvidos até que se entregasse. Teve início, então, sua longa peregrinação pelos tribunais e celas dos Estados Unidos, França e Panamá, que terminou nestes dias com sua morte.

Da longa lista de pequenos ditadores que envileceram a história da América Latina, a grande maioria morreu na cama, rica e até respeitada, depois de banhar em sangue e vergonha seus países e saqueá-los até deixá-los exauridos. O Cara de Abacaxi, um dos mais abjetos, pelo menos pagou atrás das grades por parte de suas vilanias, ainda que, por desgraça, não tenha sido possível resgatar senão uma fração da fortuna que fez com seus desmandos e da qual poderão agora desfrutar em paz seus descendentes. Aliás, já começaram a fazer isso. Aqui em Paris, os diários falam das magníficas clientes que eram as filhas do defunto nas lojas superluxuosas da Rue Saint Honoré.

Pergunto-me como Nicolás Maduro vai terminar seus dias: como Fidel Castro, protegido por uma guarda pretoriana no quartel miserável em que converteu a Venezuela? Ou atrás das grades, como o general Videla, na Argentina, ou como Fujimori no Peru? A verdade é que, provavelmente, nenhum da longa lista de sátrapas que castigaram a América Latina fez coisas piores que o ex-motorista de ônibus a quem o comandante Chávez designou herdeiro (para que não lhe fizesse sombra). Maduro levou à ruína mais absoluta um dos países mais ricos do continente, que agora morre literalmente de fome, de falta de remédios, de emprego, de saúde, tem as mais altas inflação e criminalidade do mundo, está quebrado e é objeto da repulsa e condenação de todas as democracias do planeta. Antes, só perseguia e prendia os que se atreviam a criticá-lo. Agora também mata, e sem risco. Seus “coletivos chavistas”, bandos de malfeitores armados que andam de motocicleta, já cometeram mais de 60 assassinatos nas últimas semanas, frente à resposta corajosa do povo venezuelano que voltou às ruas para enfrentar a ameaça governista de substituir o Congresso por uma assembleia de serviçais não eleitos, mas indicados a dedo, como faziam Mussolini e a URSS. Cada dia que Maduro permanece no poder, a agonia da Venezuela se agrava. Mas tudo parece indicar que o fim dessa via crúcis está próximo. E tomara que os responsáveis pela hecatombe econômica e social produzida pelo chavismo, a começar por Maduro, recebam o castigo que merecem.

Os ditadores saídos de quartéis, como Pinochet, Noriega ou Videla, já parecem pertencer a uma América Latina de outras eras, que, por sorte, tem agora, de uma ponta a outra, governos civis nascidos de eleições mais ou menos livres e na qual há amplos consensos – que não existiam no passado – em favor de instituições democráticas e de políticas de abertura econômica, estímulos a investimentos estrangeiros e inserção nos mercados mundiais. 

É verdade que, em muitos casos, se trata de democracias corroídas pela corrupção que às vezes cedem à tentação populista, mas, ainda assim, deve-se levar em conta que uma democracia medíocre e demagógica é mil vezes preferível a uma ditadura, como nos lembram os jornais venezuelanos. Por isso, é muito interessante observar o que se ocorre no Brasil. A extraordinária mobilização popular que mandou para a cadeia boa parte da elite política e um bom número de empresários desonestos não busca uma “revolução socialista”, mas sim aperfeiçoar a democracia, livrando-a dos que a estavam corrompendo, destruindo-a por dentro, com alianças mafiosas que enriqueciam verdadeiras gangues de empresários e políticos, boa parte dos quais se encontra, graças a juízes valentes e honestos, no calabouço ou a ponto de ir parar nele. 

Esse é um movimento popular na direção correta. Não quer um retorno ao delirante populismo que congelou Cuba no tempo e banha em sangue e miséria a Venezuela, mas purificar e permitir que funcione um sistema que os ladrões de colarinho branco estavam desmanchando por dentro. Se conseguir, o enorme Brasil deixará de ser o eterno “país do futuro” que foi até agora e começará a ser um presente em marcha, modelo para o restante da América Latina. 

 



Lula ainda não sabe por que querem prendê-lo

Lula locuta:
"Hoje fiquei sabendo que o Ministério Público pediu minha prisão, minha condenação, não sei o porquê. Em qualquer lugar do mundo, para você ser condenado e até indiciado, tem que ter prova. Aqui no Brasil, se não tem prova tem que prender mesmo, porque não precisa mais de prova. Eu tenho uma história neste país."
E mais:
"Eu não sei se o procurador-geral da República, o Moro (sic), que tinha um amigo procurador que foi preso, e que ele até pediu desculpa na televisão, ficou chateado porque o procurador era amigo dele, queria fazer jantar para o procurador, o procurador fazia jantar para ele, não sei se a teoria do domínio do fato vale pra ele, se ele sabia que o cara era ladrão."
E ainda:
"Não tenho desafiado a Justiça, o Ministério Público, até porque o Ministério Público é uma instituição que respeito, o que tenho é contra as meninices dos procuradores da Lava Jato."

PT e petistas lideram ranking de propina da JBS

O PT e seus integrantes lideram o ranking dos destinatários da propina da holding J&F Investimentos paga por meio de caixa 2 de campanhas eleitorais.
O levantamento é do Estadão, com base nos relatos dos delatores da controladora da JBS.
Dos cerca de R$ 1,4 bilhão que os Batista confessaram ter pago, R$ 616 milhões foram para os petistas, sempre segundo os delatores.
Parabéns.

Deltan Dallagnol: "Ser amigo do 'rei' se tornou um excelente negócio no país"

Deltan Dallagnol resumiu a corrupção brasileira neste trecho de seu artigo na Folha:
"Grande parte da elite política e boa parte da elite econômica se uniram para lucrar e manter o poder por meio da corrupção.
Fazer política e ser amigo do 'rei' se tornou um excelente negócio no país. Além de enriquecerem juntos, os grandes corruptos sempre se protegeram, desde que o Brasil é Brasil, e não se deixaram punir.
A explicação é simples: o mecanismo da punição é a lei. Os donos do poder garantem sua própria impunidade porque influenciam tanto o conteúdo da lei como quem a aplica."

Deltan Dallagnol: "A corrupção suga a energia da produção brasileira e a qualidade do serviço público"

A corrupção sistêmica é incompatível com o desenvolvimento econômico e social.
É o que dizem estudos internacionais citados por Deltan Dallagnol em seu artigo deste domingo na Folha.
"A corrupção suga, por meio de mais e mais impostos, a energia da produção brasileira e, por meio de mais e mais desvios, a qualidade do serviço público."
Para Deltan, o Brasil "está desiludido, mas o problema não está na descoberta da ilusão", "é a realidade que está distorcida".
Ao mesmo tempo, o país "vive uma grande chance de se reconstruir sobre novas bases".
"A lei não precisa se ajoelhar diante dos barões; o país não tem que caminhar sobre uma ponte instável; a população não está condenada a ser governada pela cleptocracia."

Deltan Dallagnol: Brasil é "chantageado" a aceitar corrupção em troca de "estabilidade"

Ao mesmo tempo que FHC cobra mais explicações da Lava Jato, Deltan Dallagnol explica o truque dos políticos para chantagear o Brasil.
Segundo o procurador, em troca da "estabilidade política, necessária para a economia prosperar", "o país é chantageado a aceitar a corrupção dos donos do poder".
"A chave para a recuperação econômica é usada como moeda de troca, para garantir a impunidade dos grandes corruptos e a continuidade dos esquemas.
Vende-se uma dupla ilusão. A estabilidade é falsa. Seus pilares estão corroídos, apodrecidos, prontos a desmoronar a cada próximo escândalo."

Os "atos arbitrários", segundo FHC

FHC defende a continuidade da Lava Jato, mas sem supostos excessos:
"Nada de arranjos e medidas casuísticas para beneficiar parlamentares e poderosos. Tampouco, por outro lado, se devem aceitar atos arbitrários que permitam a um Poder anular as prerrogativas de outro."
O ex-presidente tucano prega "clareza de posição" quanto às investigações e aos processos criminais em curso, mas recorre ao velho expediente de propor mais "explicação" e "reflexão" sobre os pontos que prefere não condenar abertamente.
Por exemplo:
"Prisões preventivas, quando necessárias, devem ter seus motivos mais bem explicados à sociedade e maior reflexão cabe sobre até que ponto se justifica a concessão de prêmios eventualmente excessivos a quem delate crimes de corrupção. É de justiça que se precisa, não de vingança nem de benesses."
FHC quer mais Powerpoint?

FHC dá o tom do governo-tampão: avanço das reformas (com moderação) e da Lava Jato (sem excessos)

O artigo de FHC publicado neste domingo no Estadão e no Globo é uma plataforma de governo-tampão para o caso de vacância da Presidência da República antes das eleições de 2018.
O ex-presidente tucano prega o avanço das reformas e da Lava Jato, sem excessos prejudiciais a “grupos mais fragilizados da sociedade” no primeiro caso ou simplesmente “arbitrários” no segundo.
A ideia de FHC é mexer um pouco de cada lado, sem incitar a reação popular com uma reforma drástica ou uma operação Mela Jato.
“É preciso dar continuidade às reformas em curso no Congresso e às investigações do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário. As reformas são essenciais para que a economia prospere. As investigações, para a moralidade pública.”

As indiretas da Folha

No mesmo editorial em que recomenda o afastamento de Michel Temer com a cassação da chapa pelo TSE, a Folha ainda diz que prefere a antecipação das eleições diretas – mas O Antagonista acha que é só para não perder o debate sobre o tema e a simpatia da esquerda.
Isto porque o jornal demonstra, ao menos, o senso de realidade faltante entre manifestantes petistas, ao reconhecer que, diante dos "imensos" obstáculos, o caminho aberto (pela Constituição, diga-se) para o exercício da soberania popular é mesmo a eleição direta de 2018.
Leiam, por favor, mais este trecho:
"A Folha já declarou simpatia pelas emendas constitucionais que convertem a eleição indireta em direta nos casos de vacância verificada até seis meses ou um ano antes de o mandato expirar.
Não seria casuísmo, dado que mudanças constitucionais são comuns na vida política brasileira. Além disso, trata-se de universalizar, não de restringir, prerrogativas, devolvendo-se acesso a um direito democrático exercido pelo povo -a quem, diz a Constituição, o poder pertence.
Não há como negar, entretanto, que seriam imensos os obstáculos à aprovação de diretas já.
Desde logo, gigantesca pressão da sociedade, expressa em manifestações de rua comparáveis às de junho de 2013 ou março de 2016, teria de compelir três quintos dos parlamentares a aprovar a medida, talvez no bojo da reforma política em análise na Câmara.
O processo deveria, ademais, ocorrer em tempo recorde, que mesmo assim consumiria meses. Por outro lado, é indiscutível que a Constituição exige do Congresso a escolha do sucessor em 30 dias, desfecho a ser acatado como legítimo.
O governo Temer vem implantando um audacioso elenco de reformas estruturais que estão no rumo certo. Sua capacidade de seguir adiante com esse programa parece seriamente prejudicada.
Em algum momento, decerto nas eleições gerais de 2018, o caminho adotado será submetido ao escrutínio popular. Por ora, o mais importante, com ou sem Temer, é que governo e Congresso persistam nesse rumo, único capaz de nos livrar da recessão e preparar um futuro mais próspero e promissor."

Folha recomenda cassação da chapa Dilma-Temer, com afastamento do presidente

A Folha de S. Paulo recomenda em editorial deste domingo a cassação da chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer no julgamento que começa na terça-feira no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o consequente afastamento do atual presidente da República.
Leiam, por favor, este trecho:
"Dos fabulosos R$ 300 milhões declarados, ao menos R$ 50 milhões são apontados como contrapartida pela prestação criminosa de favores.
Embora não exista prova de que Temer tenha participado desse esquema, a legislação eleitoral é clara ao vincular o vice ao presidente. Resta fora de dúvida que tanto Dilma Rousseff como Michel Temer se beneficiaram de ilicitudes que abalam a própria validade do pleito.
Ao mesmo tempo, desde a divulgação da delação premiada do delinquente confesso Joesley Batista, há duas semanas, a credibilidade do presidente se viu comprometida de forma dramática e, tudo indica, irremediável.
É verdade que a gravação da conversa do delator com o presidente é inconclusiva: contém trechos ambíguos ou inaudíveis e está sob suspeita de edição. Mas é preciso demasiada credulidade para considerar inocente aquele tipo de diálogo, naquela circunstância; parece óbvio que o teor ali é indecoroso.
Todo julgamento que implica um presidente da República tem um aspecto jurídico e outro político. A iminência do juízo no TSE surge como fórmula legal para remover um chefe de Estado cuja situação se afigura indefensável, até porque sujeita à aparição de revelações que convertam as fortes suspeitas em certezas.
É com desalento que esta Folha, portanto, considera recomendável a cassação da chapa e o afastamento do presidente."
O Antagonista, sem desalento, considera que a Folha demonstra senso de realidade nesta recomendação.
Mas reforçamos que a Constituição precisa ser seguida à risca. A eleição para o sucessor tem de ser indireta e as eleições de 2018, mantidas no calendário normal. É o que temos.