sábado, 3 de dezembro de 2016

'Hoje, a força política não está mais nos partidos, está no povo', diz Miguel Reale Jr


Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, o jurista Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment de Dilma, reconhece o surgimento de "novos tempos" na política brasileira: "A força política não está mais nos partidos, nos parlamentares, mas no povo, que encontrou como vocalizar, como se expressar e mostrar seu inconformismo diante do despudor de alguns de seus representantes oficiais". 
Reale Jr. destaca a importância da pressão social para impedir a votação da absurda emenda que incluiria uma anistia a diversos crimes no projeto das 10 Medidas. 

O jurista foi o redator do manifesto divulgado pelo Iasp, com a adesão de institutos de advogados e associações de juízes, e que exigiu que a emenda não fosse aprovada. O manifesto definiu a proposta como "um tapa na cara da sofrida população brasileira", constituindo “uma afronta grave ao princípio da moralidade, dado elementar de nossa constituição, além de se atingir o sentimento de honradez do povo brasileiro, cansado da corrupção que destruiu o patrimônio da Nação, criando imenso descrédito para a já abalada democracia brasileira”. 

Após a intensa mobilização pela sociedade, a Câmara desistiu de incluir uma proposta expressa de anistia, embora ainda tenha desfigurado o projeto inicial, eliminando a maior parte das medidas propostas e ainda incluindo medidas para intimidar juízes e promotores. Não obstante, o episódio mostrou que o povo adquiriu uma força antes inimaginável. Diz Reale Jr.: 

A força política não está mais nos partidos, nos parlamentares, mas no povo, que encontrou como vocalizar, como se expressar e mostrar seu inconformismo diante do despudor de alguns de seus representantes oficiais. Os três chefes de Poder, exprimidos na bancada, atenderam ao clamor popular expresso nas redes sociais.
Há uma mudança radical ainda não digerida pela classe política. A democracia representativa deve se adequar ao fato de o povo fiscalizar e cobrar o Congresso pelo Twitter, Facebook, Instagram, Telegram, WhatsApp. Essa força revelou-se novamente esta semana, fazendo o Senado rejeitar, por pressão social, a urgência urdida por Renan Calheiros para votação do desvirtuado projeto das medidas contra a corrupção.
São novos tempos.