A Operação Lava Jato é um dos maiores motivos de orgulho para o povo brasileiro nas
últimas décadas. A investigação conduzida pela força-tarefa do Ministério Público
Federal representa a esperança na vitória da Justiça para milhões de brasileiros,
cansados e maltratados por políticos e empresários bandidos e sem vergonhas.
Através da determinação e garra do juiz federal Sérgio Moro, os procuradores da
República e delegados da Polícia Federal que integram a força-tarefa baseada em
Curitiba materializam o sonho da sociedade e realizam um árduo trabalho focado no
combate à corrupção no país.
Mas as conquistas obtidas pela Lava Jato não se limitam aos bilhões recuperados do
dinheiro que foi roubado do povo. Os membros da força-tarefa lavaram a alma dos
brasileiros ao mandar para de trás das grades empresários bilionários e cínicos que, ao
lado de políticos corruptos e megalomaníacos, conceberam um plano ardiloso de poder totalmente financiado com o dinheiro do contribuinte.
E as conquistas não para por ai. O excepcional trabalho realizado pelos investigadores
revelou a podridão generalizada da classe política e está forçando o Supremo Tribunal
Federal (STF) a reconsiderar uma das maiores vergonhas do país: o famigerado foro
privilegiado, que protege bandidos ocupantes de cargos públicos e livre acesso ao
dinheiro do povo.
Os ventos de mudança continuam soprando de Curitiba e podem assegurar ao povo
mais uma importante conquista no combate à corrupção e impunidade centenária em
vigor no país. Esta semana, o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil
(Ajufe), Roberto Veloso, afirmou que o STF vem sendo criticado pela demora nas
investigações e julgamento de políticos alvos da Lava Jato.
“O preço que o STF está pagando é alto ao não mexer nisso”, disse Veloso ao Estado.
“O Supremo ou toma uma decisão a respeito disso ou vai ter que se adequar a ser uma
corte voltada ao julgamento de crimes”, afirmou. De acordo com ele, o foro
privilegiado “está transformando o Supremo numa corte criminal”, sendo que a
competência do tribunal é para julgamentos constitucionais.
O presidente da Ajufe chama a atenção para uma realidade mais do que óbvia para
toda a sociedade e afirma que "o foro está sendo utilizado para proteção de quem
pratica crimes” e que o instrumento é usado atualmente para fazer “chicana”. Para ele,
a Corte deve uma resposta à sociedade.
Nada menos que 93% dos associados da Ajufe confirmaram em uma consulta
realizada no ano passado que são a favor do fim do foro privilegiado. A
associação, portanto, se manifesta pelo fim da existência do foro por prerrogativa de
função – quando, em razão do cargo, uma autoridade só pode ser processada no
âmbito penal perante um tribunal específico. No caso de deputados e senadores, por
exemplo, o julgamento precisa ser conduzido pelo STF.
“No Brasil temos cerca de 45 mil pessoas com foro privilegiado. Desde tribunais de
justiça, TRFs, STJ e o STF. Então o foro é inegavelmente algo que precisa ser
reformulado no Brasil”, afirmou Veloso em entrevista publicada no Estadão.