Existem coisas que só podem ser lidas nas entrelinhas. Há tempos o ex-presidente
Lula vem falando de uma ampla aliança entre os partidos de esquerda do Brasil. Há
tempos Lula vem falando sobre a necessidade de cativar os jovens, de se reaproximar
dos movimentos sociais e de concentrar forças nos movimentos de base, como
movimentos estudantis, pequenos sindicatos e outros coletivos que ainda nutrem
alguma simpatia pela esquerda.
Ocorre que Lula tem plena consciência de que nada disso seria possível, levando em
conta o profundo desgaste sofrido pelo PT ao longo dos últimos dois anos. Haja vista o
impeachment de Dilma e a humilhante derrota do partido nas urnas nas últimas
eleições municipais. Lula sabe que nenhum partido de esquerda ousaria se arriscar a
se alinhar com o PT, mesmo que fosse apenas para organizar uma passeata. Estão
todos sofrendo para tentar se desvencilhar da imagem do partido e da imagem de
Dilma, que estraçalhou a reputação de todos aqueles que a apoiaram em seus dias derradeiros no Planalto.
UM SINAL CLARO: NINGUÉM QUER SER PRESIDENTE DO PT
Os membros do partido estão todos "recuados" diante da falta de novas narrativas que
expliquem o desastre que foi o PT no poder. Também não há como justificar o fato de
que o maior assalto aos cofres públicos da história do país ocorre justamente durante
os governos petistas. O povo não é bobo e sabe que, embora outros ou quase todos os
partidos também tenham roubado, o fizeram sob o comando do PT de Lula e Dilma.
Não tinha como roubar a Petrobras ou o BNDES sem o aval de Lula e Dilma. Talvez
por este motivo é que nenhum petista que presidir o partido, incluindo o próprio Lula.
Ninguém quer assumir o lugar de Rui Falcão e é provável que ele seja o último
presidente do PT.
Um dos membros da cúpula do PT admitiu que os 37 anos de história do partido
foram parar no esgoto da história. "Aquela imagem da Polícia Federal na porta do
partido, enquanto agentes cumpriam mandatos de busca e apreensão foi forte
demais. O PT foi profundamente estigmatizado por seus erros e deve pagar um
preço muito alto por tudo isso"
Lula sabe que o PT se tornou inviável, pois o partido já não consegue mais mobilizar a
militância para um simples comício. Nos últimos eventos em que participou, Lula
precisou chamar reforços entre sindicatos e movimentos sociais para conseguir ocupar
os lugares dos recintos cada vez menores.
O que tem valido a Lula nos últimos meses tem sido a figura de Guilherme Boulos, do
MTST. Ao lado dele, Lula tenta reeditar a Frente Brasil Popular, a coligação pela qual
concorreu na eleição de 1989. O atual coordenador da Frente Brasil Popular é ex-integrante
do PSB Roberto Amaral, enquanto Boulos comanda a Povo sem Medo. As
duas frentes concentram praticamente todos os movimentos sociais e sindicais que
deram suporte ao PT ao longo das últimas décadas. Mas mesmo estes líderes veem
com reticência cada vez maior uma associação concreta com o PT.
Todos já perceberam que vinculados ao PT torna-se mais difícil angariar
simpatizantes na periferia, entre os estudantes e até mesmo entre trabalhadores de
baixa renda. O mote desta turma é praticamente o mesmo do PT, mas o partido está
profundamente estigmatizado pela chaga da corrupção e foi duramente atingido pelas
investigações da Operação Lava Jato.
Se Lula já não possui estatura moral suficiente para re-aglutinar os partidos de esquerda em torno de um novo projeto de poder, a Frente Brasil Popular pode ter. E é
nisso que Lula tem apostado. A última Plenária Nacional da FBP em Belo Horizonte
reuniu nada menos que 100 organizações vinculadas historicamente ao PT.
Além de Lula, outros membros do partido já defendem abertamente a composição
com uma frente de esquerda, na qual o PT seria sutilmente sepultado. "Este é o
momento para impulsionar a formação de uma nova frente, na qual o PT não tenha
necessariamente a hegemonia automática, afirmou o deputado federal Paulo Teixeira
(SP), durante o lançamento do 6º Congresso Nacional do partido em janeiro.
Lula sabe que já não é mais uma personalidade admirada ou respeitada nem no Brasil
nem no exterior. Aquele que era identificado como um tradicional defensor dos
direitos dos trabalhadores e do combate à miséria e a fome é visto hoje como o maior
corrupto da história do Brasil de todos os tempos.
Sem prestigio, sem honra ou reputação, Lula e todos no PT sabem que o partido é a
maior vítima da cultura da corrupção implantada na legenda por seu líder e seus
companheiros. Lula e o PT sofreram as consequências devastadoras de um governo
que teve seus crimes desmascarados pelas investigações da Operação Lava Jato. Todos
os fatos foram amplamente divulgados pela imprensa nacional. Além de se tratar da
mais importante pauta para os meios de comunicação, justamente por se tratar de
uma questão de interessa nacional, a cobertura sobre a Lava Jato atrai o interesse de
praticamente todos os setores da sociedade, o que acaba melhorando o desempenho
da imprensa sob o ponto de vista financeiro. Lula e o PT acabaram envolvidos no meio
de uma gigantesca armadilha criada por eles mesmos.
Desde então, tudo que Lula e o PT representavam no consciente coletivo foi parar na
lata do lixo. Como consequência, o partido e seu líder tornaram-se inviáveis
politicamente. Embora nenhum partido de oposição tenha ainda se beneficiado
diretamente do estrago sofrido pelo partido, o PT sofreu danos irreversíveis ao longo
dos últimos anos.
De olho no futuro, Lula e correntes do PT se mobilizam para atrair o que chamam de
"setores progressistas" em torno de uma nova frente de esquerda. Em 2018, os
petistas não vão querer repetir o fracasso das urnas de 2016. De modo que tudo
caminha para a extinção do partido nos próximos anos, articulada por Lula.
fonte: Imprensa Viva