quinta-feira, 27 de abril de 2017

AS CATILINÁRIAS E LULA

Na República Romana, certa feita, por volta de 70 a.C., durante o consulado de Marco Túlio Cícero, advogado e filósofo romano, e integrante do senado, descobriu-se uma conspiração que vinha organizada por Lúcio Sergio Catilina, também integrante do senado romano.

Catilina era um nobre, um patrício, membro do clã (chamado em Roma de “gens”) “Sergia”, cujos antepassados remontam à data da fundação de Roma, e tinha um plano de tomar controle do Estado romano, elegendo-se Cônsul (na República Romana, o governo era dividido entre 2 cidadãos eleitos, cujo mandato durava 1 ano; em uma comparação com a era moderna, o cargo equivale ao Presidente da República, nos regimes presidencialista, ou ao Primeiro-Ministro, nos regimes parlamentaristas), em um esquema de fraude nas eleições pela compra de votos junto ao povo humilde, e de prática de atos de terror, como provocar incêndios e até assassinato de autoridades.
           
Uma vez no Poder, Catilina tinha como intenção livrar-se das inúmeras dívidas e dificuldades financeiras que o assolavam, e de permanecer por longo período no cargo, reelegendo-se várias vezes, desobedecendo o costumeiro rodízio existente na cadeira consular romana.
           
Quando Cícero tomou conhecimento da conspiração de Catilina, desferiu contra ele, no Senado, 4 discursos que entraram para a história com o nome de “Catilinárias”, e que levaram ao exílio de Catilina de Roma, com a perda de seus bens e de sua posição social e política, e posteriormente, um ano depois, ao seu assassinato.

Cícero inicia o primeiro desses discursos com a célebre expressão que é conhecida até hoje, e que volta e meia é repetida, sempre em momentos de crise política, por aqueles que possuem um maior arroubo oratório, com as adaptações necessárias, em uma licença poética:
“Até quando, Catilina, abusarás da paciência nossa? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?” (no original: “quo usque tandem abutere, Catilina, patientia mostra? Quam diu etiam furor iste tuus nos eludet?”)
           
Pois bem. Quando vejo qualquer declaração de Lula à imprensa, seja através do que ele fala no Instituto Lula, ou seja através do que seus advogados dizem, sempre me vez à cabeça a pergunta de Cícero, e fico me questionando: “até quando, Lula, abusarás da paciência nossa? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós?”
           
Sim, porque o que Lula faz com a sociedade de bem, integrada por 190.000.000 de pessoas (estou excluindo os 17.000.000 de pelegos que ainda constituem o exército de apoiadores do ex-presidente), só pode ser zombaria. A única atitude que se esperaria de uma pessoa normal, que se encontrasse em uma situação de ter que responder a dezenas de processos criminais, era a de que ficasse calado, para não piorar a sua própria situação, ou que, no mínimo, não desse declarações públicas de que é vítima de sabotagens, que são levadas a efeito no Poder Judiciário do país, com o intuito apenas de denegrir a sua imagem.
           
Declarações desse tipo soam, evidentemente, como zombaria, como pilhéria, como um “tapa na cara” da sociedade, e comprovam o pouco apreço que Lula tem para com a inteligência alheia, além da característica mais do que conhecida dos petistas (e da esquerda em geral), que é a arte da vitimização, figurinha mais do que carimbada, e que não funciona mais sequer entre os próprios petistas e sua claque – veja-se, por exemplo, o desembarque da nau petista, que vem ocorrendo a pleno vapor, com a debandada de antigos apoiadores, como Leonardo Boff.
           
Lula é acusado, com farto material probatório, de inúmeros fatos criminosos, muitos deles envolvendo o maior e mais sofisticado esquema de corrupção de que se tem notícia no mundo moderno; ele está com todas as suas ações controladas e monitoradas pelo Ministério Público e pela Polícia.
           
Como pode não enxergar que o seu discurso não engana mais ninguém? Como pode continuar afirmando que uma coisa tão séria como essa “não dá em nada”, ou algo do tipo? Como pode continuar desmerecendo os membros do Ministério Público Federal que o acusam dessa maneira tão virulenta e acachapante, chamando-se de “meninos”?
           
Lula continuar insinuando, a essa altura do campeonato, que tudo o que ele está passando é uma grande “armação”, é a coisa mais absurda e inverossímil que existe: seria necessário bolar um plano, em um verdadeiro complô nacional, criado, unicamente, para desconstruir a imagem e credibilidade da “alma mais honesta” do país, como o ex-presidente recentemente a si mesmo qualificou, arquitetando uma ação conjunta e integrada entre membros do Poder Judiciário (da mais alta cúpula aos juízos de 1ª instância) do Ministério Público (Federal e de vários Estados da Federação), da Polícia Federal, da imprensa, de empresas privadas, forjando documentos, e de centenas, talvez milhares, de pessoas físicas, combinando depoimentos e praticando falso testemunho.
           
Isso é totalmente impossível, e se alguém ainda acredita nisso tem sérios problemas de cognição e compreensão da realidade, e necessita urgentemente de tratamento.
           
Na verdade, Lula toma a todos, na Nação, por tolos, mas na verdade ele mesmo é um. Definitivamente, é como já disse uma vez um certo ex-deputado federal: o petismo instiga em nós todos os sentimentos mais primitivos!

Guillermo Federico Piacesi Ramos