domingo, 3 de setembro de 2017

'Estranho país o Brasil. Aboliu os cigarros em locais públicos, mas não impede que pervertidos ejaculem na cara das mulheres em ônibus', ataca jornalista

O jornalista Josias de Souza, em sua coluna, lamentou a decisão do juiz que soltou o pervertido que ejaculou em uma mulher dentro de um ônibus. Para o colunista, "a decisão ajuda a explicar o comportamento do agressor".

Leia abaixo o texto de Josias de Souza: 
Estranho país o Brasil! Aboliu as baforadas de cigarro nos salões dos restaurantes chiques. Mas não consegue impedir que pervertidos ejaculem na cara das mulheres em ônibus e trens urbanos.
Quem poderia imaginar que, no processo da evolução humana, o macho brasileiro se tornaria um bípede para poder abrir o zíper num transporte coletivo do século 21, colocar o pênis para fora, marturbar-se e espargir esperma em fêmeas indefesas?
 Um King Kong enxergaria essa modalidade de sexo público como uma prática constrangedora. Em São Paulo, porém, chamado a julgar o caso do sujeito que ejaculou no pecoço de uma mulher dentro do ônibus, um juiz mandou soltá-lo com base na seguinte argumentação:
''Entendo que não houve constrangimento, tampouco violência ou grave ameaça, pois a vítima estava sentada em um banco de ônibus, quando foi surpreendida pela ejaculação do indiciado.''
Levando-se o raciocínio do doutor às últimas (in)consequências, a mulher ultrajada talvez devesse agradecer ao agressor pela civilidade do ataque. Mas a vítima, aos prantos, discordou: “Eu me senti um lixo. Para a Justiça, não fui constrangida!”
A decisão ajuda a explicar o comportamento do agressor. Não foi a primeira vez que ele meteu o pênis na cara de uma mulher. Acumula 13 passagens pela polícia por “ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor” e três prisões, sendo duas por “estupro”.
O cobrador do ônibus evitou que o tarado fosse agredido. Segurou-o até a chegada da polícia. Lamentou que a prisão tenha sido relaxada no dia seguinte. Disse estar “decepcionado”.
O juiz escorou sua decisão em manifestação do promotor, também favorável à liberação do agressor, mediante pagamento de multa. Tais injustiças levam algumas pessoas a gritarem, de tempos em tempos: “Livrai-me da Justiça, que dos malfeitores me livro eu.”
Alguém já disse que a civilização é tudo o que sobra para ser desenterrado dez mil anos depois. Quando os arqueólogos desencavarem evidências de que os ataques sexuais eram comuns nos transportes coletivos brasileiros, tudo será esclarecido.
A comunidade científica concluirá que o macho brasileiro parou de evoluir por volta dos anos 2000, tomando o caminho de volta. Era bípede. Mas retrocedeu até ficar de quatro. Registros sonoros indicarão que o macaco voltou à cena para perguntar: “Acha que valeu a pena?”
– Atualização feita às 10h54 deste sábado (2): O ejaculador solto pelo juiz, com o aval do promotor, voltou a exibir o pênis para uma mulher dentro de um ônibus nesta manhã de sábado. Detido pelos passageiros, o sujeito foi preso novamente.