Acuada com a devastadora delação do executivo Marcelo Odebrecht, a ex-presidente
Dilma acabou perdendo completamente a noção da realidade durante entrevista à Folha, quando afirmou que o executivo "foi submetido a uma variante de
tortura" e que "sofreu muitos tipos de pressão" para aceitar virar delator e que seus
depoimentos são "uma coisa absolutamente ridícula".
"Eu tenho a impressão de que o senhor Marcelo Odebrecht, para que sua delação fosse
aceita, tinha de falar sobre coisas ilícitas da minha campanha e inventou essa ficção".
Folha - A senhora quer dizer que os investigadores o pressionaram para envolvê-la?
Dilma - "Olha, eu tenho a impressão de que o senhor Marcelo Odebrecht sofreu
muitos tipos de pressão. Muitos tipos de pressão. Por isso, não venham com
delaçãozinha de uma pessoa que foi submetida a uma variante de tortura, minha filha. Ou melhor, de coação. Ele nunca teve essa proximidade comigo [para tratar de verba
de campanha]. Da minha parte sempre houve uma imensa desconfiança dele", alegou
a petista, que se reuniu dezenas de vezes com o executivo para tratar de assuntos de
interesse mútuo.
O executivo não apenas confirmou que repassou mais de R$ 150 milhões em propina
para a petista, como informou em depoimento à Justiça Eleitoral que alertou Dilma
sobre a contaminação de sua campanha com dinheiro depositado em contas no
exterior para saldar dívidas de campanha que ela tinha com o marqueteiro João
Santana, que também confirmou a informação em sua delação.
Dilma foi questionada pela reportagem obre este trecho da delação, mas acabou se
enrolando:
Folha - Marcelo também diz que, já com a Lava Jato em curso, avisou a senhora, num
encontro no México, que a sua campanha poderia ser contaminada, pois ele havia feito
pagamentos ao marqueteiro João Santana no exterior.
Dilma - Eu viajei ao México para um encontro com o [presidente] Peña Nieto e
depois houve um almoço e uma reunião com empresários. O Marcelo estava lá. No fim
do dia, eu já estava saindo para o aeroporto, atrasada, mas queria ir ao banheiro. Fui
para [o toalete de] uma sala reservada e fiz o que tinha que fazer [risos]. Quando
voltei, tá lá o senhor Marcelo nessa sala. Ele começou a falar comigo, do jeito Marcelo,
tudo meio embrulhado. E eu numa pressa louca, olhando pra ele. Não entendi
patavina do que ele falava. Niente ["nada", em italiano]. Ele diz que me contou que
poderia ocorrer contaminação. Mas eu não tinha conta no exterior. Se o João tinha, o
que eu tenho com o João? Por que eu teria que saber?
Dilma está desesperada, pois pode ter seus direitos políticos cassados pela Justiça
Eleitoral. Sem conseguir concorrer a uma vaga no senado ou na Câmara dos
Deputados, a petista se tornará alvo do juiz Sérgio Moro. O ex-procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, já tinha pedido a abertura de inquéritos contra a petista, com base
nas delações e provas entregues por Marcelo Odebrecht.