domingo, 19 de novembro de 2017

Janaína Paschoal relata caso chocante de ódio e ameaça: 'Nunca vi tanto ódio nos olhos de alguém'

A jurista Janaína Paschoal, em um desabafo, expôs o clima de ódio que se instaura devido ao "acirramento de ânimos". Para exemplificar o acirramento de ânimos, a professora de Direito relatou um encontro com uma mulher que expressou seu ódio contra a autora do pedido de impeachment de Dilma: "Nunca vi tanto ódio nos olhos de alguém".

Leia o desabafo de Janaína Paschoal:

Amados, se vocês lerem a entrevista dada por Butler à Folha, vão perceber que, diferentemente do que se alardeia, ela questiona todas as categorias, sexo, gênero, etc.
Butler destaca o profundo dissenso que há entre os muitos grupos e reconhece haver divergências até mesmo acerca do que seja gênero.
Se os especialistas em sexualidade, questões de gênero, etc têm tantas dúvidas e divergem mutuamente (o que não é algo ruim em si) como exigir dos outros manifestações perfeitas?
Leiam a entrevista de Butler à Folha e a matéria que compartilho abaixo sobre a fala de um magistrado.
A matéria noticia que o FONATRAN representará o magistrado ao CNJ, por ter entoado um discurso de ódio, durante ato religioso, em que se questionava a ideologia de gênero.
O FONATRAN reclama do fato de o magistrado ter correlacionado gênero à homossexualidade.
Vejam, retomando, se até a maior especialista na matéria aponta não haver consenso entre os ativistas LGBTI..., como exigir do magistrado saber se gênero está, ou não, relacionado à homossexualidade? E ainda que tivesse sido um erro crasso, onde está o ódio?
A fala do magistrado foi generalizante? Misturou grupos que não devem ser misturados? A nota do movimento também foi! Atribuiu o comportamento criminoso de atacar sexualmente crianças a todos os religiosos. Tratou todos os agressores sexuais como pedófilos!
Eu, por trabalhar com Direito Penal, sei bem que toda generalização é injusta. Por atender vítimas de crimes sexuais e, por isso, precisar estudar os agressores, sei bem que nem todos são pedófilos. Mas nem todo ser humano sabe, nem mesmo no Direito e na Medicina!
É necessário haver um pouco de solidariedade também nos discursos. Seja daqueles que promovem e sempre podem passar a mesma mensagem em outro tom, seja daqueles que recebem. Esse acirramento de ânimos não ajuda ninguém.
Discursos de ódio são aqueles que incitam e/ou fazem apologia à violência.
Se uma pessoa acredita que a homossexualidade é um pecado e que homossexualidade está diretamente relacionada a gênero, pode-se tentar estabelecer um diálogo, mas não há medida judicial para moldá-la ou modificá-la!
Na entrevista, Butler fala algo muito importante. Algo que eu mesma costumo dizer aos meus alunos que, até pela idade, são radicais nessas questões. Nós não podemos obrigar os outros a nos aceitarem. Podemos exigir não sermos agredidos, nem prejudicados, mas não amados.
Por mais que muitos sonhem, não existe um direito fundamental a ser amado.
Às vezes, ouvindo alguns ativistas das mais diversas causas, penso que todos gostariam de ter uma lei que lhes garantisse aceitação e amor. Não há e é bom que não haja! Amor imposto é totalitarismo.
O magistrado que, ao que tudo indica, será representado por ter errado um conceito não definido de gênero, não pode prejudicar um transexual, que seja parte em processo em trâmite na Vara em que atua. Mas ele não é obrigado a estar atualizado com as várias teorias de gênero!
Eu não concordo com uma série de pontos levantados por Butler, mas acho que esses muitos grupos radicais nessas muitas causas deveriam ouvi-la em um aspecto. A vida pode ser mais leve!
Uma sociedade plural existe porque as pessoas pensam (e podem pensar) diferente, até mesmo acerca de qual o conceito de uma dada teoria.
Dia desses, na saída de um casamento, uma senhora aproveitou que eu estava só, se aproximou e disse bem baixinho: "Eu quero que você morra, que morra agora, que morra hoje". Nunca vi tanto ódio nos olhos de alguém.
A conversa foi um tanto longa. Eu fiquei abalada, não por mim. Eu não fiz nada para ela. Fiquei abalada por ela. O ódio só faz mal a quem sente. Quero muito que ela se cure desse sentimento e fique bem.
Entendem? Não posso entrar com uma ação para exigir que aquela mulher me ame, ou que me poupe de dividir comigo o seu sentimento de ódio. Se ela me agredisse, a situação seria diferente. Se fosse minha chefe e me assediasse, seria diferente. Mas amar e odiar são verbos intransitivos!
Eu poderia ingressar em uma análise jurídica, pormenorizada, sobre direitos constitucionais à liberdade religiosa, de consciência e à livre expressão. Mas antes do Direito vem a razoabilidade. Não é razoável, nem saudável, a expectativa de consenso.
Eu sou algumacoisafóbica por escrever o que escrevi? Uns dirão que sim. Digo que não! Só estou falando o que realmente penso.
Concordo com vários pleitos dos muitos grupos (LGBTI... ou não), discordo de outros tantos. Exigência de concordância absoluta leva ao totalitarismo!