sábado, 11 de agosto de 2018

Moro disse que é "possível que esquema criminoso" do PT "tenha alguma relação com o homicídio do Prefeito de Santo André, Celso Daniel"


No despacho relativo à Operação Carbono 14, a 27ª fase da Operação Lava Jato,o juiz federal Sérgio Moro chamou a atenção para uma série de indícios que remetiam para o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, registra o site Imprensa Viva.

Em seu despacho, o magistrado observou “Que, Sílvio Pereira indagou se o depoente poderia, mais uma vez ajudá-los com empréstimos; Que, nessa ocasião, Sílvio Pereira informou que Gilberto Carvalho, Lula e José Dirceu estavam sendo chantageados por um empresário da área de transporte de onibus, chamado Ronam Pinto,de Santo André; Que, o depoente usou a seguinte expressão para ficar fora dessa questão: ‘me inclua fora disso’; Que, Sílvio Pereira solicitou que ao menos fosse na reunião com Ronam Pinto, marcada no Hotel Mercure (hotel Puma), localizado na Avenida 23 de Maio em São Paulo; Que, nesse encontro Ronam Pinto chegou acompanhado de Breno Altman, que trabalhava para o José Dirceu e era do PT e posteriormente, Sílvio Pereira disse ao depoente, que Breno Altman era a pessoa utilizada pelo PT para ser o contato com o empresário Ronam Pinto; Que, Ronam Pinto disse ao depoente e a Sílvio Pereira que pretendia comprar o jornal Diário do ABC que estava divulgando notícias que o vinculavam à morte do prefeito Celso Daniel; Que, indagado o depoente declarou que Sílvio Pereira não lhe informou o motivo da chantagem de Ronam Pinto em relação ao ex Presidente Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho e o depoente também não se interessou em saber porque não queria se envolver nesse assunto; Que, Ronam Pinto pediu R$ 6.000.000,00 para comprar 50% do Jornal Diário do ABC; Que, após esse encontro Sílvio Pereira indagou ao depoente o que ele achava da situação e o depoente sugeriu que fosse localizada uma pessoa da extrema confiança do presidente para fazer esse empréstimo; Que, Sílvio Pereira informou que eles tinham outras empresas que atuavam, em outros segmentos, da mesma forma que a SMP&B na área de publicidade para o Governo; Que, o depoente insistiu que o assunto era delicado e seria melhor a localização de uma pessoa de confiança do presidente e deles; Que, posteriormente, Sílvio Pereira disse ao depoente que esse empréstimo de R$6.000.000,00 seria feito no Banco Schahin por José Carlos Bumlai, um dos maiores pecuaristas do Brasil, amigo de Lula, dono da empresa Constran (famosa construtora); Que, o depoente ficou sabendo que o dinheiro foi transferido para Ronam que comprou 50% do jornal e, posteriormente, o restante; Que, como Delúbio era o braço direito de Lula, Sílvio Pereira era conhecido corno o ‘braço direito’ de José Dirceu; Que depois que o caso Mensalão veio à tona, o depoente ficou sabendo que o banco Schahin tinha uma construtora chamada Construtora Schahin, que essa construtora comprou umas sondas de petróleo que foram alugadas pela Petrobrás, por intermédio do seu diretor Guilherme Estrela, como uma forma de viabilizar o pagamento da dívida; Que, o banco Schahin foi comprado pelo Banco BMG.”

Na época, setores da imprensa levantaram a suspeita de que havia algum elemento infiltrado vazando informações à pessoas ligadas ao PT. Um fato ocorrido na véspera da deflagração daquela fase da investigação realçou ainda mais a gravidade destas suspeitas: o incêndio criminoso que atingiu o escritório de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef. 



A Carbono 14 tinha como alvo principal o empresário Ronan Maria Pinto, apontado por ter recebido R$ 6 milhões do esquema de corrupção da Petrobras. Com base em depoimentos prestados na Lava Jato e também em informações prestadas pelo publicitário Marcos Valério à PGR, o juiz Sérgio Moro já relacionava a possibilidade de que o dinheiro repassado ao empresário teria servido para comprar seu silêncio sobre o assassinato de Celso Daniel.

Leia abaixo o trecho do despacho em que o próprio juiz Sérgio Moro aponta as suspeitas:

"Já Ronan Maria Pinto foi, como adiantado, condenado criminalmente, sem trânsito em julgado, por sentença da 1ª Vara Criminal de Santo André no processo 00587-80.2002.8.26.0554, por crimes de extorsão e corrupção ativa, em continuidade delitiva, no aludido esquema de corrupção e extorsão na Prefeitura de Santo André (evento 7, comp39). É ainda possível que este esquema criminoso tenha alguma relação com o homicídio, em janeiro de 2002, do então Prefeito de Santo André, Celso Daniel, o que é ainda mais grave".




Um documento que liga Ronan Maria Pinto a Marcos Valério e Mensalão foi apreendido em 2014 numa operação da Polícia Federal no escritório incendiado de Meire Poza, ex-contadora do doleiro Alberto Youssef. O documento comprova o repasse informado por Marcos Valério a Ronan Maria Pinto exatamente no valor de R$ 6 milhões. Valério informou à Procuradoria Geral da República que o repasse seria para comprar o silêncio do empresário, que ameaçava denunciar a participação de Lula, José Dirceu e outros integrantes do PT na morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel.

Outra coincidência foi o fato da defesa de José Dirceu também ter protocolado um pedido na véspera da Operação, quinta-feira (31), para que a Justiça autorize sua ida a um hospital particular de Curitiba. O atestado foi assinado por um médico de Brasília, onde afirma que Dirceu se queixava de "dor de cabeça há mais de 20 dias"

O juiz Sergio Moro considera o fato como muito grave e confirmou que "é possível" que a morte do prefeito Celso Daniel, em 2002, tenha relação com o esquema de corrupção e extorsão na Prefeitura de Santo André (SP)" Celso Daniel, segundo a imprensa, vinha brigando com dirigentes do PT por questões relacionadas a partilha dos recursos desviados da prefeitura. Celso Daniel comandava a campanha de Lula à Presidência naquele ano, mas discordava do destino dos recursos desviados da prefeitura para a campanha, segundo a imprensa. 

O fato do incêndio criminoso ter ocorrido no dia 31 de março, justamente na véspera da operação que tinha como alvo um suspeito de chantagear o ex-presidente Lula sobre o caso de Celso Daniel nunca foi devidamente esclarecido, assim como a morte do ex-prefeito de Santo André, um dos fundadores do PT.