sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

FILHOS DE TEORI QUESTIONAM CONCLUSÕES 'AFOITAS' QUE DIZEM QUE NÃO HAVIA PROBLEMA MECÂNICO EM AERONAVE

O filho do falecido ministro do STF Teori Zavascki, Alexandre Zavascki, publicou em sua página do Facebook um texto em que alerta sobre conclusões precipitadas sobre o acidente que vitimou seu pai. Ele explica que, para se chegar às causas da queda do avião, não é suficiente saber que chovia e que o piloto não comunicou nenhum problema com o avião. Pede, assim, que não se tirem conclusões precipitadas. Outro filho de Teori, Francisco Zavascki, compartilhou o texto do irmão. 

Leia abaixo o texto publicado por Alexandre Zavascki: 
Sobre Análises Preliminares
Nós, pesquisadores, conhecedores da metodologia científica empregada para encontrar relações de associação e de causalidade, sabemos o quão frágil e ilusória pode ser uma análise preliminar ou incompleta, principalmente quando estamos trabalhando com um evento que, a priori, sabemos ser influenciado por múltiplas variáveis.
Variáveis confundidoras ou intermediárias podem ser tomadas como preditoras independentes do nosso desfecho de interesse em análises preliminares. A causalidade reversa é fenômeno traiçoeiro e muito sedutora para cientistas inexperientes.
Construir modelos preditores que expliquem um evento é tarefa árdua, para a qual é imprescindível a disponibilização do maior número de variáveis possíveis, mensuradas sem interferência de nenhum viés de aferição. De outra forma, em ciência, não teremos nada além de hipóteses. Uma possibilidade, como qualquer outra.

Se a nossa variável para explicar a queda de um avião, por exemplo, for somente o mau tempo, teremos um modelo preditor com nenhuma acurácia. Se tomarmos uma desorientação espacial de um piloto, podemos estar explicando o evento através de uma variável intermediária (variável que está relacionada temporalmente entre a causa base e o desfecho). Se incluirmos somente esses dois fatores em um modelo de análise multivariada sem a correta aferição de todos os outros potenciais preditores, continuaremos muito longe da verdade.

Não tirar conclusões definitivas a partir da observação de uma parte - ou da aferição de poucas variáveis - é o que a ciência nos exige para chegarmos mais próximos da verdade.
Para finalizar, comento: "análise do áudio do piloto indica que não houve anormalidades na aeronave". Leitura correta: 1) o piloto desconhecia qualquer anormalidade eventualmente presente, 2) o piloto não verbalizou nenhuma anormalidade eventualmente ocorrida e eventualmente por ele percebida.

A explicação que está de acordo com nossa convicção ou interesse será sempre a que nos parecerá mais lógica - é o nosso conflito de interesse intelectual - inerente a qualquer um e mais atuante quanto mais o desconhecemos.
Aguardemos, com cautela na análise de dados preliminares, as conclusões da investigação do mais recente acidente aéreo ocorrido no Brasil. Nem teorias conspiratórias, nem conclusões afoitas, mas método científico.


Conteúdo AFP