O extrato seguinte, dela retirado, é um diálogo entre Jean-Baptista Colbert, ministro da Fazenda e Cardeal Mazarino, primeiro-ministro de Luís 14, passado noutro tempo e noutro lugar, no reinado de Luís XIV, em França. Mas bem poderia ter sido aqui no Brasil atual.
Cardeal Mazarin: – Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar à prisão. Mas o Estado… é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!
Colbert: – Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criámos todos os impostos imagináveis?
Mazarin: – Criando outros.
Colbert: – Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
Mazarin: – Sim, é impossível.
Colbert: – E sobre os ricos?
Mazarin: – Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: – Então como faremos?
Mazarin: – Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer, e temendo empobrecer.
É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos.
Formam um reservatório inesgotável.
É a classe média!
Nota: favor não confundir o texto se passando no reinado de Luís XIV com a data da peça. Essa peça foi escrita em 2008 pelo autor teatral Antoine Rault, na França. Foi premiada em 2009 na França.
