segunda-feira, 4 de junho de 2018

Só os ricos lucraram com a greve dos caminhoneiros


Enquanto o rescaldo da greve dos caminhoneiros revela a cada dia as dimensões monstruosas do prejuízo causado à nação, um grupo particular de empresários do setor comemora os lucros que terão daqui para frente com a redução do preço do diesel e de outras vantagens obtidas nos acordos que o governo se viu forçado a fechar com a categoria, publica o site Imprensa Viva.

De acordo com a publicação, além dos donos de grandes empresas de transportes, produtores de determinados segmentos também comemoram os lucros obtidos com a comercialização de itens como verduras e carnes em geral. Mesmo após o fim da greve, carnes de aves, suínas e bovinas mantiveram alta em torno de 15%.

O fato é que apenas os mais ricos lucraram com a greve.  Os caminhoneiros autônomos vão continuar sofrendo.  As reivindicações dos caminhoneiros continham uma série de embustes como pano de fundo. Manobrados por empresários gananciosos, políticos oportunistas e produtores rurais espertos, os caminhoneiros autônomos acreditaram que seus problemas seriam resolvidos com a greve, mas não foram. 

Ao longo dos últimos anos, a frota de caminhões cresceu em 40%, enquanto a economia cresceu apenas 11% no mesmo período. Isto significa que o setor enfrenta quase 30% de ociosidade, o que mantém acirrada a concorrência e a pressão no setor, que empurra fatalmente o preço dos fretes para baixo

As facilidades no acesso ao crédito para a compra de caminhões durante o auge da valorização das commodities no mercado internacional entre os anos de 2009 e 2010 permitiram que milhares de autônomos ingressassem no mercado de transporte de cargas em todo o país. 

Além da ampliação das linhas de crédito, o governo Lula aprovou ainda um programa de renovação da frota, atendendo a demandas das montadoras de caminhões.

Em 2012, o governo Dilma voltou a ceder aos apelos das montadoras de caminhões, quando o então ministro da Fazenda, Guido Mantega,  inclui a prorrogação do IPI menor e a redução da taxa de juros de linhas do BNDES para o financiamento para caminhões por meio do Programa de Sustentação do Investimento (PSI).

O PSI, criado em 2009, desembolsou cerca de 227 bilhões até julho 2012. Com o ingresso de milhares de profissionais no mercado, aumentou a concorrência e a pressão pelos baixos custos dos fretes em todo o país. 

Se a situação já não era cômoda para os autônomos do setor nos idos de 2012, a situação piorou  ainda mais a parti de 2013 e vem deteriorando desde então.

Com a recessão, tornou-se cada vez mais difícil repassar as altas do preço do diesel para os contratos e fretes. Com uma concorrência enorme no mercado, vários caminhoneiros se viram obrigados a aceitar serviços com margens cada vez mais reduzidas de lucro. 

Se o mercado de cargas estivesse aquecido, não haveria greve. Os custos com a alta do diesel seriam simplesmente repassados aos custos, conforme as regras de livre mercado. 

Como se vê, a natureza dos problemas da categoria não estão relacionados apenas à questão do custo do diesel. 

Ao contrário de outros setores que enfrentam dificuldades sazonais e precisam se adaptar, se modernizar ou até mesmo mudar de atividade, os empresários do setor de cargas e caminhoneiros preferiram colocar a faca no pescoço da nação para que o povo resolvesse seus problemas, que não acabaram. Pelo menos para os mais sacrificados no setor, que são os caminhoneiros autônomos.

Mesmo após a assinatura do vantajoso acordo com o governo, a categoria deve continuar enfrentando dificuldades. devido à alta concorrência no setor.

As vantagens obtidas pelo setor favorecem ainda mais as grandes empresas de transportes de cargas, ao mesmo tempo em que devem criar maiores dificuldades aos autônomos.

Além dos bilhões que vão sair dos bolsos do contribuinte para bancar subsídios para empresários milionários, outros bilhões também mudaram de contas com a desvalorização de mais de R$ 100 bilhões na Petrobras. 

A greve dos caminhoneiros fez a alegria de muita gente, exceto dos próprios caminhoneiros e da sociedade, que sempre acaba pagando a fatura.