segunda-feira, 2 de julho de 2018

Sistema político brasileiro prosperou na cultura da promiscuidade por décadas e classe política atual é fruto desta cultura


As mudanças de paradigmas sempre são traumáticas em qualquer civilização. O avanço nos marcos civilizatórios é, na maioria dos casos, visto como um processo dolorido e exige o banimento de comportamentos profundamente arraigados na sociedade.

O que era considerado perfeitamente normal há algumas décadas, hoje soa absurdo. O simples fato de hábitos comportamentais vistos como banais uma geração atrás serem repudiados hoje pela maioria da sociedade comprova que, por mais conturbado que seja, o processo civilizatório é irreversível, quando ocorre num ambiente democrático.

Estas mudanças de paradigmas ocorrem em conjunto entre países que primam pela evolução de suas sociedades com base em conceitos de civilidade e igualdade de direitos entre os cidadãos. A ruptura de valores e hábitos considerados normais gera alguma contrariedade entre pessoas menos dispostas a ceder em nome de um convívio social mais harmonioso.

Um exemplo bem simples. As regras para o consumo de bebidas alcoólicas no Brasil são extremamente brandas. As bebidas podem ser consumidas abertamente em locais públicos de grande circulação, sem qualquer restrição. Os bares, quiosques e até camelôs colocam mesas nas calçadas, sem serem importunados. 

Não é raro que pessoas embriagadas entrem em desentendimento com transeuntes inocentes que simplesmente tentam chegar em suas casas. As autoridades estão cansada de saber  sobre a perigosa relação entre bebida alcoólica e violência. Em maior quantidade, a substância pode deixar algumas pessoas mais agressivas e propensas a se envolver em situações de risco, como brigas e acidentes de trânsito. 

A bebida alcoólica também está por trás de boa parte dos homicídios que ocorrem no Brasil, além de ser apontada como precursora de 65% dos casos de violência doméstica.

Nos Estados Unidos e na maior parte dos países civilizados, o consumo de bebida alcoólica sofre uma série de restrições. Não há comércio de bebidas em locais abertos, ninguém pode circular em locais públicos, como praias, ruas e parques , consumindo até mesmo uma simples cervejinha e a pessoa tem que ser maior de 21 anos, que é a lei dos EUA. 

Algumas regras e leis que devem ser seguidas, sob pena de multa, fechamento de estabelecimentos e até consequências mais graves para quem infringir. 

Beber e dirigir então, nem pensar. As leis para quem bebe e dirige são bem rígidas e dá até cadeia, além de pesadas multas e perda da habilitação. Não é raro ver notícias de celebridades e políticos poderosos algemados após terem sido flagrados embriagados ao volante.

Este é apenas um exemplo da cultura da permissividade que ainda predomina no Brasil, em muitos casos. Alguns cidadãos se inflamam para defender 'direitos', sem se importar se estão afetando os direitos dos demais cidadãos. 

O problema é que os hábitos considerados normais por muitos tendem a se tornar verdadeiros absurdos com o tempo. Muitos não se lembram, mas até pouco tempo atrás, as pessoas fumavam em hospitais, elevadores, ônibus urbanos e coletivos, e até mesmo no avião. 

Neste aspecto, respeitar o espaço público representa um avanço no processo civilizatório, embora algumas mentes menos arejadas insistam em taxar estes avanços como retrocessos. A resistência de uma sociedade transgressora representa a maior barreira para o avanço das conquistas da cidadania e da Democracia.

No caso da classe política, a situação é ainda mais difícil de se corrigir. Praticamente todos os políticos em atividade no Brasil se elegeram através de métodos e financiamentos de campanhas nada adequados para os dias de hoje. 

Há poucos dias, o Supremo Tribunal Federal inocentou a senadora do PT, Gleisi Hoffmann de acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. 
Os membros do Supremo sequer mencionaram que o processo que pesava contra a presidente nacional do PT envolvia o uso de cerca de R$ 1 milhão em  caixa 2 que teriam circulado na campanha da petista ao senado em 2010. 

O mesmo ocorreu durante o julgamento da chapa da ex-presidente Dilma Rousseff no Tribunal Superior Eleitoral. As evidências de que houve uso de milhões em recursos não declarados oriundos de esquemas de corrupção eram bastante contundentes, mas não houve qualquer condenação por parte da Justiça Eleitoral naquele episódio.

Assim como o patrão assediar a empregada valendo-se de sua posição de superioridade era algo banal até a bem pouco tempo, assim como 'adotar' uma criança carente para a execução de serviços domésticos era um hábito bastante comum em várias regiões do Brasil, financiar campanhas com recursos não declarados era uma prática comum. 

Empresas interessadas em negócios com o governo ou empenhadas em aprovar projetos no Congresso doavam milhões aos partidos, que redistribuía estas verbas para seus candidatos. 

Várias empresas e empresários que prosperaram no Brasil ao longo das últimas décadas, como Joesley Batista e Marcelo Odebrecht, teriam se beneficiado desta relação nada republicana com os partidos e políticos. 

Some-se à isso os meios de comunicação, os grupos corporativos ligados a servidores e outros grupos de interesses organizados. 

O resultado é a manutenção da classe política por décadas, com baixíssima taxa renovação de seus quadros.

Com base neste retrospecto negro, é possível concluir que não há santo entre os atuais representantes da classe política, que deve tentar se ajustar aos novos tempos pós-Lava Jato. 

Por outro lado, o eleitor também precisa se reeducar na hora do voto. Será preciso muita atenção no momento de escolher os novos representantes do povo para os governos dos estados, as casas legislativas e o presidente da República em 2018.