DEPUTADO RÉU NA LAVA JATO VIAJA A CADA 4 DIAS COM DINHEIRO PÚBLICO
Conhecido no noticiário político-policial
da Operação Lava Jato, o
deputado federal e réu no
petrolão Aníbal Gomes (PMDB-CE)
é uma figura praticamente
invisível na Câmara dos
Deputados. De 1995 para cá
(está no sexto mandato), há
apenas registros de cinco
discursos de Gomes em plenário
– o último aconteceu em 2004,
para saudar a nomeação do
então senador e hoje deputado
Carlos Bezerra (PMDB-MT) ao
cargo de presidente do Instituto
Nacional do Seguro Social
(INSS). Nesta legislatura, o
peemedebista não apresentou
nenhum projeto e, ao longo de todo o ano de 2016, apenas compareceu ao Congresso a partir de
setembro.
Até mesmo quando justificou ter dores na coluna para não comparecer à Câmara – ele faltou a
simplesmente todas as 36 sessões realizadas entre o início de fevereiro e o final de abril com tal
argumento , o deputado desfrutou do dinheiro que deveria cobrir exclusivamente gastos decorrentes da
atividade parlamentar.
Nesse período, Gomes fez mais de trinta viagens entre Fortaleza, sua base eleitoral, e Brasília, onde mora
com a família. Ou seja: uma média de um voo a cada quatro dias. Todas as notas foram apresentadas à
Casa e, em seguida, reembolsadas. Ao faltar às sessões nos primeiros quatro meses do ano, o
congressista afirmou que estava em tratamento de saúde.
O site de VEJA pediu os atestados, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), com as motivações
apresentadas por Gomes para justificar as sucessivas ausências na Câmara dos Deputados. O
fornecimento dos dados, no entanto, foi negado sob o argumento de que informações relativas a
procedimentos médicos são “expressamente” consideradas atos pessoais e, portanto, protegidas por
sigilo. A Casa ressaltou, ainda, que as informações exigem “consentimento expresso” para serem
repassadas.
Procurado, o deputado disse que apresentou atestados em “quase todas as faltas”. “Houve algumas que
não [apresentei]”, admitiu. “A gente fica até com vergonha. É tão problemático que às vezes a gente
prefere não ir para não estar lá atormentando os médicos. Mas quase todas estão justificadas”, completou.
A ausência por questões de saúde é um dos poucos argumentos aceitos para evitar que haja corte de
salário proporcional à quantidade de faltas.
O deputado afirmou ainda sentir fortes dores na coluna e já ter passado por duas cirurgias. “O fato de estar
doente, em crise, e, portanto, não ir ao plenário, não quer dizer que dois ou três dias depois eu não esteja
bom o suficiente para fazer uma viagem ao meu estado. E coluna é assim, meu amor: tem dia que eu não
me levanto. Aí eu tomo um remédio, ligo para o médico, e dois dias depois estou andando”, disse, para
justificar a rotina de faltas.
Em dezembro de 2016, o Supremo Tribunal Federal acolheu denúncia do Ministério Público que esmiuçou
um pouco mais profundamente a atuação do parlamentar cearense. Aníbal Gomes tornou-se réu por
corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Ele é acusado de prometer pagamento de propina de
800.000 reais ao então diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa para permitir e facilitar
as negociações entre a estatal e empresas de praticagem da Baixada Santista e de São Sebastião (SP).
Gomes também é alvo de outra denúncia, ainda não analisada pelo Supremo, em que é acusado de
receber propina no petrolão em nome do presidente do Senado, Renan Calheiros , (PMDB-AL), de quem é
aliado.
Fonte: Folha Política