DISPUTA PELA PRESIDÊNCIA DA CÂMARA MOSTRA QUE DEPUTADOS NÃO OUVEM AS RUAS
A disputa pela presidência da
Câmara dos Deputados, que vai
ter eleição no próximo dia 2, não
mudou em nada o quadro da
velha política, com as
tradicionais denúncias de uso da
máquina, oportunismo, golpes
baixos e falsas promessas. E
assim tem sido a campanha dos
quatro candidatos na disputa pela
cadeira: Rodrigo Maia (DEMRJ),
Rogério Rosso (PSDDF), Jovair
Arantes (PTBGO) e André
Figueiredo (PDTCE) repetem o
inadmissível jeito de fazer
política no Brasil. A cobiçada cadeira de presidente da Câmara dará ao eleito o poder de decidir os rumos
políticos do País, cabendo a ele colocar em votação as matérias mais importantes para o Brasil. Dentre
as benesses incalculáveis, há a prerrogativa de administrar um orçamento de R$ 5,9 bilhões, valor
previsto para 2017.
O deputado escolhido chefiará quase 20 mil servidores, terá direito a desfrutar da
residência oficial da Câmara em área nobre de Brasília e de ter um avião da Força Aérea Brasileira (FAB)
à disposição.
Atual detentor da máquina, o presidente Rodrigo Maia abriu seu poder de fogo tão logo recebeu sinal verde
da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para disputar a recondução ao cargo que ocupa desde julho,
quando houve uma eleição extraordinária para suprir a cadeira após a renúncia de Eduardo Cunha (PMDBRJ),
hoje preso em Curitiba. Maia prometeu acelerar projetos de deputados caso seja confirmado no cargo,
mas passou até mesmo a oferecer cargos na estrutura do governo Michel Temer (PMDB) para obter apoio.
Por exemplo: ao PSB, bancada com 34 parlamentares, ofereceu a presidência da Nuclebras, estatal que
cuida de tecnologia nuclear.
Mas sua principal barganha é a primeira-secretaria da Câmara que, no escopo de sua próxima gestão,
ainda está vaga. Ele usa o cargo para fisgar partidos do maior bloco do parlamento, o Centrão, composto
pela união de 13 siglas da base aliada, como PP, PR, PSD e PTB. A estratégia prevê que, além de
incorporar votos, Maia desidrate o apoio aos dois principais concorrentes na corrida à cobiçada cadeira:
Jovair e Rosso.
OPORTUNISMO DO PT
Dono da segunda maior bancada da Câmara, o PT cobra o cumprimento da regra da proporcionalidade e
pede a Maia o cargo de primeirosecretário da Câmara em troca de apoio ao atual presidente. O impasse
tem sido o divisor de águas no namoro entre Maia e o PT. Em dezembro, após conduzir a última sessão,
que votou a renegociação das dívidas dos estados, Maia foi à liderança petista e agradeceu pessoalmente
aos deputados que ali se encontravam. Em troca, integrantes do PT declararam apoio ao democrata.
Há quem queira tirar proveito desse imbróglio. É o caso de Jovair Arantes. O candidato petebista e relator
do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff – deu parecer favorável à admissibilidade ,
acenou com apoio ao pleito do PT. Candidato do centrão, o líder do PTB garantiu que vai respeitar a
proporcionalidade. Fez críticas ao adversário por ameaçar escantear o PT com a composição de um bloco
forte. “Os lugares que existem na mesa já são destinados aos partidos políticos”. A estratégia surtiu efeito.
Mesmo sendo relator do impeachment de Dilma Rousseff, alguns petistas demonstram apoio ao candidato
que foi algoz da ex-presidente.
Alinhado com a barafunda interna que tem dificultado a reconstrução da legenda, o PT não consegue unir
os discursos e nem o apoio a uma mesma candidatura. Enquanto a maior parcela é simpática a Rodrigo
Maia, outra ala do PT, liderada pelo deputado Carlos Zarattini (SP), não abre mão da primeira-secretaria da
Câmara. Ele pede que o novo presidente respeite a vontade popular, que elegeu os 57 parlamentares
petistas.
A demagogia também tem ocupado papel de destaque nesta eleição. Aproveitando a onda de comoção
que se formou em torno da tragédia com o time de futebol da Chapecoense, Rogério Rosso apelou para o
emocional. Vestido com o uniforme do time catarinense, Rosso lançou nas rede sociais uma emotiva
candidatura. Mas Rosso refuta ter sido demagogo. “O deputado João Rodrigues é integrante da nossa
bancada do PSD na Câmara e foi prefeito de Chapecó. Ele foi um dos grandes apoiadores da minha
campanha e nos ensinou a torcer pelo time narrando jogos em tempo real pelo whatsapp”.
De olho na sobra dos votos, o deputado André Figueiredo (PDTCE) espera por um aceno do PT para,
junto com o PDT, chegar ao coeficiente de 77 votos, com os 20 da legenda trabalhista, e conseguir
barganhar ao menos um lugar na Mesa Diretora. Figueiredo usa o fato de não ter votado na admissibilidade
do impeachment de Dilma para ter o apoio da segunda maior legenda.
USO DA MÁQUINA
Mesmo no recesso parlamentar, os quatro candidatos não descansaram no final do ano. Entre os Estados
aonde foi fazer campanha, Maia esteve no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. No primeiro Estado se
encontrou com o governador Robinson Faria, que é do mesmo partido de Rosso. Falou de outros
assuntos, mas também de eleição da Câmara. Maia ainda participou de um almoço em Pernambuco com
20 deputados federais e também do Ceará, Piauí e Paraíba.
Após críticas de adversários de que estava fazendo viagens com o avião oficial da FAB para alavancar
sua campanha, Maia passou a voar com um avião bancado pelo DEM. Assistindo de camarote os quatro
candidatos se digladiarem, o Palácio do Planalto tenta manter distância, apesar dos indícios de que confia
mais em Maia.
Sempre os mesmos
Ao contrário do que acontece na Câmara dos Deputados, em que a disputa pela presidência será nariz a
nariz, a eleição para o comando do Senado Federal está praticamente equacionada. A supremacia do
PMDB e um grande acordo de entre legendas praticamente garantem a vitória do senador Eunicio Oliveira
(PMDBCE). O que chama atenção na equação é o oportunismo do PT, que se tornou oposição ao
governo federal, mas mesmo assim quer garantir uma cadeira na mesa diretora. O plano acertado até o
início do recesso parlamentar é que, em contrapartida ao apoio a Eunicio, alguém do PT assuma a
primeira-secretaria do Senado e que um representante do PSDB seja escolhido para a primeira vicepresidência
da Casa.
Apesar do acordo com o líder do PT, Humberto Costa, Eunício encontra dificuldade em ter os votos totais
do partido.
Dois senadores petistas se recusam a apoiálo: Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR)
discordam do acordo em torno do nome de Eunício, que eles chamam de golpista, por ter sido o relator da PEC dos gastos públicos. “A questão de cargos não pode ser argumento”, justificou Gleisi. A escolha pelo
nome do cearense dentro do PMDB também passou por longa negociação para poder acomodar outros
peemedebistas de porte que estavam de olho na mesma cadeira. Atualmente no posto, caberá a Renan
Calheiros (PMDBAL) a liderança do PMDB no Senado ou a chefia da principal comissão, que é a de
Constituição e Justiça