domingo, 19 de março de 2017

A Polícia Federal está resgatando o Brasil

Quando o nosso mundo parece estar de cabeça para baixo, precisamos de palavras que possam mudá-lo e rasgar a pele calejada da hipocrisia e do engano.  O extraordinário escritor russo Alexander Soljenitsin talvez tenha sido uma das pessoas que melhor apontou para essa verdade.

Sua visão moral interior, inabalável, fez com que suas posições públicas em prol da justiça ficassem profundamente estruturadas. Ele não apenas sobreviveu aos horrores do Estado comunista totalitário, como emergiu destemido, como uma nova voz de eloquente fúria, para sacudir as percepções do universo ocidental.

Ele revelou ao mundo a terrível realidade dos campos de concentração soviéticos em obras como “Arquipélago Gulag” e “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”. O próprio Alexander passou por vários campos de trabalho forçado (os chamados Gulags). Primeiro, foi mandado para a Sibéria por oito anos, por causa de uma carta a um amigo no qual fazia referência a Joseph Stalin. Cumprida a pena, foi condenado outra vez ao exílio interno perpétuo no sul do Cazaquistão.  E assim se sucedeu, em diversas outras ocasiões. Até que em 1971, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Mas não foi à Suécia recebê-lo porque temia não conseguir autorização para retornar à União Soviética.  Ele amava demais a sua pátria. Em 1974, escreveu o ensaio “Viver sem mentiras” (ou “Live not by lies”) convocando os cidadãos a assumir uma posição moral contra o regime comunista.

Especialmente sob o governo de Stalin e seus sucessores, historiadores estimam que mais de 64 milhões de pessoas — inocentes, homens desarmados, mulheres e crianças — morreram nas mãos do comunismo. Muitos em resistência à coletivização forçada da terra. Alguns foram simplesmente assassinados a tiros; outros, torturados até a morte; e os milhões restantes foram enviados para Gulags. Ao longo das décadas de 1960, 70 e 80, o regime soviético foi sendo cada vez mais percebido como notoriamente corrupto, estagnado e, finalmente, decrépito, sob uma sucessão de caquéticos líderes do Partido Comunista que tinham como único propósito manter o poder e seus privilégios especiais.

O Brasil não vive sob o regime comunista. Mas se o leitor observar a última descrição mencionada, no que diz respeito aos governantes, percebemos uma sombria semelhança. Temos sido liderados por gente corrupta, estagnada e néscia.

Temos vivido, sobretudo nas últimas décadas, sob um regime em que o governo furta milhões de vítimas, sempre em parceria de milionários que utilizam concessões e créditos subsidiados, enquanto mortificam a sociedade com pesadíssimos impostos.

Estamos em um campo de concentração da corrupção. Milhares de pessoas morrem por falta de assistência hospitalar, estradas mal conservadas, medicamentos com preços superfaturados. A força-tarefa da Lava Jato estima que a corrupção seja responsável por um desvio de 200 bilhões de reais dos cofres públicos. Um valor que poderia triplicar o investimento federal em saúde ou educação ou quintuplicar tudo que se investe em segurança pública em todo o país.

Por último, tivemos a notícia de que a corrupção foi descoberta nas grandes empresas de comércio de carne, como a JBS, responsável pelas marcas Seara e Big Frango, e a BRF, dona da Sadia e Perdigão. Eles vendiam carne vencida, armazenada em temperaturas inadequadas, sem inspeção e com uso de produtos cancerígenos ou em excesso com objetivo de ocultar as características que deveriam impedir o consumo. Crianças de escolas da rede pública do Paraná eram alimentadas por merendas compostas por produtos vencidos, estragados e cancerígenos para atender o interesse econômico da organização criminosa.  O esquema todo envolvia propina que abastecia partidos políticos.

Mas, diferentemente da população russa, a população brasileira está sendo resgatada.

Se estamos sabendo de tudo o que está acontecendo isso se deve a uma atuação com genuína bravura da Polícia Federal.  Esses policiais têm utilizado a maneira mais eficaz para combater o mal: atacando as mentiras na qual ele se baseia. Investigando e mostrando para a sociedade que a disseminação do mal depende de uma rede de mentiras com o intuito de fazer o perverso parecer o bem.

E é assim que a Polícia Federal está, dia após dia, resgatando o Brasil.

Com essa instituição honrada, o povo brasileiro está firmando um novo contrato de redenção, o qual representa uma importante reiteração da moralidade pública.

“Viver sem mentiras” nasceu do coração de um gigante da literatura russa em meio a uma realidade diabólica e despótica do seu país. A ponto de Alexander declarar: “O pior do comunismo não é a opressão, mas a mentira.”

Que grande lição aprendemos com esse magnífico escritor russo no exato momento em que estamos descobrindo como o sistema político brasileiro é uma grande teia de mentiras e roubos. Felizmente, também estamos aprendendo com a Polícia Federal que podemos vencer e derrubar por terra uma cúpula do poder que perdeu todo o resquício de dignidade.

texto: Elisa Robson - jornalista.

publicado originalmente em República de Curitiba