quarta-feira, 12 de julho de 2017

'Pela primeira vez na América Latina estamos vendo esquemas de ruptura da impunidade', diz presidente da Transparência Internacional

Os avanços obtidos nos últimos anos em grandes casos contra a corrupção na América Latina, foram destacados por especialistas nesta quarta-feira em Buenos Aires, mas alertaram que região precisa avançar em reformas para combater a impunidade.

presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, em um evento organizado na Universidade Católica da Argentina, disse que América Latina ainda segue sofrendo com "severas condições" de corrupção mesmo com a recente evolução.

Segundo Ugaz, as características entre os casos registrados há décadas e os atuais sofreram uma mutação. Antes, eles eram de menor escala. Agora, podem ser classificados como "grande corrupção".
"Os denominadores comuns entre eles são o fato de os envolvidos terem uma cota significativa de poder político e econômico, mobilizando cifras astronômicas de dinheiro. Esses crimes são normalmente cometidos através de redes organizadas e normalmente ficam impunes", indicou.

"A corrupção na América Latina, na maioria dos casos, é histórica, estrutural, sistemica. Não é um episódio. Portanto, não se trata de mudar um governo. Aqui deve haver um esforço sustentado para que parta das autoridades, mas que tenha a sociedade toda envolvida nesse esforço", defendeu José Ugaz.

O presidente da Transparência Internacional destacou o impacto positivo de casos recentes, como a Operação Lava Jato, no Brasil, e os Panama Papers, um vazamento de documentos sobre empresas off shore que envolveu 72 chefes de Estado do mundo.

"Pela primeira vez na região estamos vendo esquemas de ruptura da impunidade", celebrou.

"A América Latina não só exporta jogadores (de futebol) e corruptos. Ultimamente, também está exportando modelos anticorrupção", disse Ugaz, que antes de assumir o comando da organização não governamental foi procurador no caso por corrupção contra o ex-presidente do Peru Alberto Fujimori.

A procuradora Isabel Groba Vieira, que faz parte da força-tarefa da Lava Jato no Ministério Público, afirmou que, apesar dos avanços do caso, os escândalos da operação não são suficientes para gerar mudanças profundas no Brasil.

"Queremos exportar uma cultura de combate à corrupção, mas sem remodelações no sistema de justiça criminal brasileiro, e sem mudanças no sistema político e eleitoral, não haverá mudanças no país. A Lava Jato não conseguirá reverter a situação que detectamos", disse Isabel.

Para a procuradora, o sistema judiciário brasileiro enfrenta riscos, como o embate permanente de recursos de anulação que pretendem paralisar as investigações ou o alongamento dos processos.

O ministro de Justiça da Argentina, Germán Garavano, abriu o encontro e afirmou que ao tema da corrupção deve unir todos os países da região.