quinta-feira, 7 de setembro de 2017

PALOCCI DIZ QUE HAVIA UM "PACTO DE SANGUE" ENTRE LULA E A ODEBRECHT E UM ACORDO DE R$ 300 MILHÕES

Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, nesta quarta-feira (6), o ex-ministro Antonio Palocci disse que o Instituto Lula recebeu R$ 4 milhões da Odebrecht e que havia uma espécie de “pacto de sangue” entre o PT e a empreiteira, que previa o pagamento de R$ 300 milhões ao partido. Segundo os advogados do ex-ministro, Palocci afirmou que os R$ 4 milhões foram dados em espécie.
O ex-ministro dos governos petistas também afirmou a Sérgio Moro que Lula da Silva sabia da compra de um terreno para o Instituto Lula e de um imóvel vizinho ao apartamento do ex-presidente, em São Bernardo do Campo.
“Em 2012, 2013, eu volto a tratar de alguns recursos a pedido do ex-presidente Lula. Tem um episódio, que o Marcelo [Odebrecht] relatou, que é verdadeiro. É um pedido que eu fiz a ele, de R$ 4 milhões pro Instituto Lula. Isso é verdade”, afirmou Palocci.
“O Paulo Okamotto me pediu para que eu ajudasse ele a cobrir o final de ano do instituto, que faltava recurso. Acho que foi meio para o final de 2013, começo de 2014. Ele tinha um buraco nas contas, me pediu para arrumar recursos. Eu fui ao Marcelo Odebrecht. Eu ia viajar para o exterior, ele disse que precisava com muita urgência. A ideia dele era que eu procurasse várias empresas. Eu disse: ‘Não posso, vou procurar só o Marcelo’. Pedi R$ 4 milhões”, detalhou o ex-ministro Palocci a Moro.
“O Marcelo concordou em dar, falou que tinha disponibilidade. Pedi ao Brani [Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci] para transmitir ao Paulo Okamotto que seriam dados os R$ 4 milhões que ele havia pedido.”
O advogado de Lula da Silva , Cristiano Zanin Martins, negou que o ex-presidente tenha recebido propina. “Não há vantagem indevida, não há qualquer relação com contratos firmados com a Petrobras. A denúncia é uma pura ficção, e os depoimentos prestados hoje não contribuem para nada. São depoimentos que não acrescentam nada, até porque sem qualquer prova”.
Ainda conforme Cristiano Zanin, que acompanhou o depoimento de Palocci na Justiça Federal de Curitiba, Lula da Silva esteve no terreno uma vez e descartou qualquer interesse. “Na verdade, a diretoria do Instituto Lula verificou que ele não era apropriado para a destinação que se buscava. Então, está muito claro e isso, evidentemente, é a verdade e é o que vai também ser esclarecido pelo ex-presidente Lula”. O petista depõe em Curitiba no próximo dia 13.
De acordo com os advogados de Palocci, uma das vantagens oferecidas pela Odebrecht para manter o bom relacionamento com o governo da presidente Dilma, era a manutenção de uma conta no valor de R$ 300 milhões.
Segundo eles, esse dinheiro poderia ser usado tanto para gastos partidários, quanto para assuntos pessoais do grupo envolvido nas negociações. Conforme a defesa de Antonio Palocci, desse montante, pelo menos R$ 4 milhões foram sacados pelo ex-presidente Lula.
“A destinação dos recursos era determinada a partir da cúpula do PT, seja pelo presidente Lula, Paulo Okamotto ou Antonio Palocci. Aí, foram destinados R$ 4 milhões do ex-presidente, questões pessoais de Antonio Palocci. Por exemplo, R$ 4 milhões em espécie que foram retirados para pagamento de gastos do Instituto Lula. Então, isso foi um favorecimento pessoal. Mas também, essa conta foi usada para o pagamento de campanha, seja por caixa dois, seja por caixa oficial”, disse o advogado André Pontarolli na saída da Justiça Federal, onde Palocci prestou depoimento a Moro.
Questionado por Moro sobre se a relação entre Marcelo Odebrecht e Lula da Silva era boa, Palocci respondeu que era “normal, mas pouco frequente”. O juiz Moro questionou ainda por que a empreiteira estaria envolvida na compra de um imóvel para o Instituto Lula.
Palocci respondeu: “Porque dr. Bumlai e dr. Roberto Teixeira sabiam que a Odebrecht era uma colaboradora… Colaboradora talvez seja uma palavra.. o senhor desculpa, às vezes eu sou 30 anos treinado pra falar dessa forma, mas que a Odebrecht dava propinas frequentes ao presidente Lula e ao PT, como se tratava de pagamento de uma propina, ela achou que a Odebrecht deveria pagar este terreno. Imagino que seja isso porque o Bumlai foi falar comigo, não foi pra me convidar pra visitar o prédio. Foi pra pedir pra eu pedir o dinheiro pro Marcelo Odebrecht. Que ele sabia que eu conversava com o Marcelo Odebrecht sobre essas coisas.

Instituto

“Especificamente no que tange o assunto do Instituto Lula, que é o objeto dessa denúncia, ficou absolutamente claro que esse assunto foi deliberado conjuntamente por um colegiado de pessoas composto por Paulo Okamotto, José Carlos Bumlai, Roberto Teixeira, o próprio Antonio Palocci, que não nega o seu mea culpa, não se exime da sua responsabilidade”, disse Adriano Bretas, outro advogado do ex-ministro.
“Mas que também admite e reconhece que integrava esse colegiado também o ex-presidente Lula da Silva, que participou e acompanhou cada passo do andamento dessa operação, que culminou pela compra desse imóvel”, completou o advogado Bretas.
Segundo denúncia do Ministério Público Federal (MPF), Lula da Silva recebeu o terreno e o imóvel como vantagem indevida da Odebrecht.
Neste processo, Palocci responde pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele já foi condenado em outra ação da Lava Jato e está preso na Superintendência da Polícia Federal (PF) na capital paranaense.