O ex-presidente Lula anda falando a torto e a direita que é candidato à Presidência da
República em 2018, como se suas declarações fossem frear o andamento dos
processos que pesam contra ele na Justiça e que podem torná-lo inelegível ainda no
mês de março.
Mas quem vê assim não imagina que este não nem de longe é o único problema de
Lula. Conhecido por mais de 99% dos brasileiros e candidato profissional há mais de
30 anos, apenas 11,9 dos entrevistados em pesquisas recentes mencionaram seu nome
como uma opção para as próximas eleições. Praticamente o mesmo percentual
alcançado por seu maior adversário, o deputado Jair Bolsonaro. Um dos problemas de
Lula é que ele cresce nas pesquisas, mas não cresce. Contando com a simpatia do
eleitorado de esquerda, o petista oscila entre 9% e 12% há mais de um ano nas
consultados de opinião realizadas até o momento. Tecnicamente, o teto de preferência
de Lula desceu ao longo dos últimos anos e o colocou de joelhos. Dirigentes do PT preveem uma corrida de seus eleitores, caso outro candidato alinhado com a esquerda
lance sua candidatura nos próximos.
Outro problema do petista diz respeito às alianças com partidos e lideranças políticas
do país. Até o momento, além dos petistas encalacrados na Lava Jato, Lula conta
apenas com o apoio do senador Renan Calheiros, (PMDB-AL), que também não anda
lá com boa avaliação entre os brasileiros. Nenhum partido se dispôs a firmar aliança
com o PT para as eleições presidenciais até o momento. Praticamente todos os
tradicionais aliados pretendem lançar candidaturas próprias. A expectativa das
legendas é a de tentar se descolar da imagem de Lula e Dilma, visando eleger alguns
parlamentares.
A situação de Lula é tão delicada que ele já convidou várias lideranças políticas e
empresariais para compor sua improvável chapa como vices. Até o momento, todos
recusaram os convites do petista, incluindo Guilherme Boulos, Fernando Haddad e até
mesmo Dilma. O desespero do petista está se tornando visível até mesmo para seus
apoiadores. Durante encontro com artistas obscuros e intelectuais de mesas de bar no
Rio de Janeiro, como parte da sua caravana pelo Brasil, Lula tentou adotar um tom
conciliador visando formar alianças com partidos e líderes políticos que votaram a
favor do impeachment de Dilma e o afastamento do PT do poder.
Para tentar sensibilizar sua audiência, o petista argumentou que para governar será
preciso ter o apoio de pelo menos 42 votos no Senado e 257 na Câmara, números que
correspondem à maioria simples nas duas casas, e disse que é improvável ter uma
base desse tamanho só com partidos de esquerda.
"Não se consegue somar esses números com quem perdeu a eleição, porque suplente
não vota, só vota quem ganhou. Percebe a dificuldade? E se quem ganhou não é nosso
a gente tem que conversar. Aí você pode fazer acordos pontuais, pode fazer acordo
programático, é possível fazer. Só é preciso saber se o outro lado quer", disse Lula. "Na
política a gente cede quando é necessário e avança quando é possível", justificou o
petista, que não pode mais contar com os recursos de empresários bilionários para
comprar alianças estratégicas nem com o dinheiro do BNDES.
Eike Batista, Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e Joesley Batista não estão mais
disponíveis para repassar dinheiro para partidos e políticos apoiarem Lula. O petista
também não tem mais o poder de indicar políticos e aliados para cargos no governo,
na Petrobras ou em qualquer órgão ou banco público. Lula perdeu o prestígio, o poder
e a condição de cidadão para concorrer à Presidência da República ao ser condenado
pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. "Quem se alia a bandido também é bandido", diz um dirigente de um partido ex-aliado do PT. O petista é hostilizado por
onde passa e a militância não está mais disposta a segui-lo ou mesmo defendê-lo nas
redes sociais.
E Lula diz que é candidato.