segunda-feira, 2 de abril de 2018

FHC diz que o assassinato de Marielle Franco é um alerta. Não Sr. FHC. Qualquer assassinato deveria ser um alerta, mas ninguém fez nada


Após afirmar que passou as duas últimas semanas em Lisboa e Londres, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu em sua coluna no O GLOBO que "O assassinato de Marielle Franco é um alerta; deve nos fazer lembrar que está em jogo o avanço na construção de uma sociedade decente no Brasil".

Não, Sr. FHC. Qualquer assassinato deveria ser visto pelas autoridades como um alerta, mas o fato é que ninguém demonstrou se importar com a escalda da violência no país ao longos das últimas décadas até que a situação chegasse onde chegou.

A vereadora do PSOL não é mais importante que qualquer cidadão que perde sua vida diariamente no país, vítimas da escalada da violência promovida pelo crime organizado que se agigantou no país sob os auspícios da negligência também criminosa das autoridades. 

O motorista Anderson Pedro Gomes que prestava serviços 'informais' à Marielle que o Sr. se esqueceu de mencionar em seu longo artigo é um deles.

Em seu artigo, FHC diz que da Europa viu "pela mídia a indignação provocada pelo assassinato de Marielle Franco, vereadora que denunciava abusos contra os direitos humanos no Rio de Janeiro". e afirma que "Dizer que se tratou de mais um assassinato é não entender o recado que quiseram dar os que a mataram. A intervenção federal na Segurança Pública do Rio não foi devidamente preparada e não soluciona todos os males, mas é vista como uma ameaça real pela banda podre das forças policiais, pelas milícias e pelas organizações criminosas. Os autores do crime quiseram deixar claro que o poder ilegal está disposto a tudo para preservar seus domínios. É sinal de uma escalada".

O raciocínio do sociólogo parece novamente equivocado ou se trata de uma tentativa canhestra de desviar o foco de outras possibilidades. Caso o crime organizado quisesse mesmo mandar um 'recado' para os responsáveis pela  intervenção federal na Segurança Pública do Rio, teriam atacado um alvo militar. Embora contrariados, a banda podre das forças policiais, milícias e organizações criminosas não tentariam 'intimidar' as Forças Armadas de forma tão periférica e de improvável relação com a intervenção em curso.

Da próxima vez que for dar pitaco sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco, tente não se esquecer de mencionar o motorista Anderson Pedro Gomes. 

Ele também era gente, assim como milhares de chefes de família, donas de casa, policiais, empresários, operários e cidadãos que perdem suas vidas todos os dias não apenas pelas mãos dos criminosos, dos milicianos ou da banda podre das polícias. Também pela precariedade no sistema de saúde, na falta de saneamento e outras 'lacunas' deixadas pelo Estado no caminho do povo. Fica a dica, FHC.

Com informações de O GLOBO