quinta-feira, 13 de abril de 2017

Marcelo Odebrecht revela fundo de R$40 milhões para Lula

Em depoimento à Justiça Federal do Paraná, o empresário Marcelo Odebrecht afirmou que a empreiteira reservou um fundo de R$ 40 milhões para atender demandas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva após sua saída do Palácio do Planalto, em 2010.


O empresário confirmou ao juiz Sergio Moro que Lula era tratado como “amigo” e contou que, em duas situações, conseguiu perceber que demandas financeiras apresentadas à empreiteira foram feitas pelo petista. Marcelo disse que Lula não pediu diretamente, mas que as questões foram tratadas com o ex-ministro Antonio Palocci.

A primeira questão seria a compra de terreno para construção do Instituto Lula e uma doação para a entidade em 2014.

“Tinha um saldo de uns 40 milhões [na conta do PT com a Odebrecht]. Aí o que eu combinei com o Palocci? Vai mudar o governo, vai entrar a Dilma […] A gente sabia que ia ter demandas de Lula, por uma questão do instituto, para outras coisas. Então o que a gente disse foi o seguinte: ‘Vamos provisionar uma parte desse saldo, e então botamos  R$ 35 milhões no saldo amigo, que é Lula, para uso que fosse orientação de Lula, porque a gente entendia que Lula ainda ia ter influência no PT’”, afirmou.

“Como era uma relação nossa com a Presidência (da República), PT, com Lula, tudo se misturava. Então a gente botou R$ 40 milhões para atender demandas que viessem de Lula”, completou.

“As duas únicas comprovações que eu teria de que Lula de certo modo tinha conhecimento dessa provisão foi quando veio o pedido para a compra do terreno do instituto IL (Instituto Lula), eu nao consigo me lembrar se foi via Paulo Okamotto ou via Bumlai, foi um dos dois, mas com certeza depois eu falei com os dois. Eu deixei bem claro que se eu fosse comprar o terreno sairia do valor provisionado”, afirmou.

As declarações de Marcelo foram dadas na segunda-feira, na ação penal que investiga o ex-ministro Antonio Palocci. Como o Supremo Tribunal Federal determinou abertura de inquéritos a partir da delação da Odebrecht, Moro determinou a retirada do sigilo do processo de Palocci na Justiça do Paraná.

O empresário disse ainda que entre o governo Lula e a chegada do governo Dilma sobrou um saldo de R$ 50 milhões, que passou a ser administrado pelo ex-ministro Guido Mantega.

Marcelo Odebrecht afirmou ao juiz que da lista de políticos na planilha do setor de propinas da empresa só conhecia pessoalmente “dez”, mas que o Italiano sempre foi o apelido do ex-ministro Antonio Palocci. “O italiano já existia antes de eu chegar. Quando falado dentro de casa, estava me referendo a Palocci. O codinome italiano só usava para Palocci”.

Odebrecht disse ainda que “não necessariamente caixa dois é propina. “A razão de pagar caixa dois é porque ¾ da campanha do pessoal precisava de caixa dois. Nenhum candidato queria mostrar tudo que gastava. A empresa não queria mostrar quem apoiou”.  “A decisão era por motivos de interesse do candidato ou do empresário e não aparecer”.