O ministro do Supremo Tribunal Federal, STF, Gilmar Mendes, confirmou à
reportagem da Folha de S.Paulo que manteve encontros privados com o empresário
Joesley Batista no Instituto Brasiliense de Direito Público, IDP, uma escola de direito
em Brasília da qual é sócio.
O ministro confessou ainda que é fornecedor de gados para a empresa JBS, que está
no centro do furacão que envolve Michel Temer e tem um acordo de delação
homologado no STF.
"Minha família é de agropecuaristas e vendemos gado para a JBS lá (Mato Grosso)",
disse o ministro, explicando que um irmão é quem negocia os valores com a empresa.
Sobre o encontro com o criminoso confesso Joesley Batista, Gilmar Mendes afirmou
que a reunião ocorreu a pedido do advogado Francisco de Assis e Silva, um dos delatores da empresa. O ministro afirmou que Joesley apareceu "de surpresa" ao
encontro e disse que tratou de apenas de questões referentes ao setor de agronegócio.
Segundo o ministro, a relação comercial com a empresa não é motivo para ele se
declarar impedido de participar das votações futuras relacionadas à JBS no STF.
"Não. Por quê? As causas de impedimentos ou suspeição são estritas", disse.
O ministro confirmou a proximidade com o empresário Joesleu Batista e confessou
outros encontros: "Eu já o havia encontrado em outras ocasiões. A JBS tem um grande
frigorífico em Diamantino (MT), minha terra, implantado pelo grupo Bertin no
governo Blairo [Maggi, governador do MT entre 2003 e 2010]".
Gilmar Mendes pode ter se adiantado em revelar detalhes sobre sua relação com
Joesley Batista por ter receio de que tenha sido gravado pelo empresário durante o
último encontro entre os dois. Após este encontro, o ministro Gilmar Mendes mudou
seu entendimento sobre a decisão do STF de manter a prisão de criminosos após
condenação em segunda instância.
O procurador da Lava Jato Carlos Fernando dos Santos Lima se manifestou
publicamente sobre a repentina mudança de opinião do ministro Gilmar Mendes
sobre o entendimento já adotado no STF:
— Não vejo nenhum motivo teórico pra que haja essa mudança. Não sei se ela vai
ocorrer, desconheço os motivos, mas não creio que haja nenhuma mudança nos
aspectos jurídicos do problema. Talvez esteja sendo decididas as questões por
problemas nos últimos acontecimentos. Entretanto isso não é suficiente pra que se
mude uma jurisprudência do STF. Não podemos confundir direito com circunstâncias
fáticas — disse o procurador, durante entrevista coletiva realizada na manhã desta
sexta-feira em Curitiba por conta da 41ª fase da Operação Lava Jato.