segunda-feira, 15 de maio de 2017

Lula tenso mente melhor

Uma grande mentira que levou à renúncia de um presidente. Esse pode ser o resumo do escândalo político chamado de Watergate, que envolveu o norte-americano Richard Nixon em uma trama astuciosa nos anos 70.
Em junho de 1972, cinco pessoas foram detidas ao tentarem fotografar documentos e instalar aparelhos de escuta em telefones do escritório do Partido Democrata, no Hotel Watergate, nos Estados Unidos. Depois de alguns meses de investigação jornalística, ficou claro que os homens haviam sido enviados por autoridades próximas ao presidente Richard Nixon.
Mas restava saber se Nixon sabia ou não do ocorrido ou mesmo se havia ordenado a espionagem. A princípio, Nixon obviamente negou qualquer envolvimento.
Porém, a verdade veio à tona mais tarde. Gravações de conversas privadas na Casa Branca surgiram, demonstrando que o presidente sabia mais do que dizia saber sobre o caso. Em agosto de 1974, quando já havia muitas provas que ligavam a espionagem a Nixon, ele renunciou à presidência, sendo substituído por Gerald Ford, seu vice.
Um dos grandes protagonistas do caso foi um informante, que ficou conhecido como Garganta Profunda. Foi ele que contou que Nixon sabia da tentativa de espionagem. A identidade do informante só foi conhecida em 2005, quando William Mark Felt, na época da denúncia vice-presidente do FBI, revelou a ajuda aos jornalistas.
Essa é mais uma história que mostra como, para muitas pessoas, o ato de mentir pode parecer normal, mas as consequências também podem ser gravíssimas.  Nos tribunais do júri, as mentiras que são aceitas como verdades libertam ou aprisionam.
Lula esteve frente a frente com o juiz Sergio Moro pela primeira vez nesta semana. E não hesitou em mentir. Frases e construções evidentemente absurdas viraram motivo de piada nas redes sociais.
“Tudo o que eu sei da Petrobras é pela imprensa”
“O senhor se sente responsável por 600 milhões de pessoas que já perderam o emprego no setor de óleo, gás e construção civil?” (O valor corresponde a três vezes a população brasileira.)
“Eu não sabia que ela tinha ido [novamente ao Guarujá, depois de anunciada a desistência]. Não sei se o senhor tem mulher. Nem sempre elas perguntam para a gente o que elas vão fazer”.
Para o delegado licenciado da Polícia Federal Jorge Pontes, “quando Lula confirma que buscou Renato Duque para apenas perguntá-lo se este mantinha conta no exterior, ele se incrimina totalmente e se descortina apenas como um chefão preocupado com a possível existência de evidências contra o esquema que comandou.”
Mas, para além disso, há um aspecto ainda pior.
A jurisprudência brasileira não prevê punição a réus que mintam em depoimentos à Justiça. Ou seja, no Brasil, a mentira é considerada uma forma de direito à defesa.
Talvez seja por isso que Lula, embora tenso, tenha mentido melhor.
Elisa Robson