quinta-feira, 8 de junho de 2017

JBS-Friboi entrega provas de pagamentos a suposto intermediário de Mantega

Os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos do Grupo J&F, entregaram à força-tarefa da Operação Lava Jato os documentos de pagamentos para o empresário Victor Garcia Sandri, suposto intermediário do ex-ministro Guido Mantega, nas liberações de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Os delatores afirmaram à Procuradoria Geral da República (PGR) que pagaram 4% do valor dos aportes financeiros do banco a Sandri, que, segundo eles, é conhecido como Vic. O empresário teria apresentado os irmãos Batista a Mantega em 2005.



Italiano, Sandri é da Cimento Penha. Os delatores contaram que ele dizia ter intimidade com o ex-ministro. Nessa época, Mantega ainda não havia assumido o Ministério da Fazenda, então ocupado por Antonio Palocci. Ele ocupava o Planejamento, no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Mantega e Palocci são dois candidatos a delator na Lava Jato. As citações da JBS contra eles reforçaram as chances deles fecharem acordo, mas para a força-tarefa da Procuradoria, não há espaço para colaborações simultâneas dos dois ex-ministros.

Os pagamentos para Sandri foram feitos por meio de suas empresas. Dono da Cimento Penha, o empresário também é dono da Gran Tornese Administração, Gran Tornese Incorporações, Sandria Projetos e Construções e Babila Administração de Bens.

A Sandria foi uma das empresas que emitiu nota contra a JBS S.A. em 2005. Uma delas, no valor de R$ 17.440,41, foi entregue aos investigadores. Há registros de pagamentos mensais, para o amigo de Mantega. A partir de 2008, os valores sobem, ultrapassando valores de R$ 1 milhão, por supostos serviços prestados à J&F. Os delatores afirmam que era propina.

Segundo os delatores, as três primeiras liberações de recursos do BNDES, de US$ 80 milhões, US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão, tiveram pagamento de 4% de comissão para Vic, via conta offshore no exterior. Segundo Joesley, o intermediário dizia que metade do valor era para Mantega. O depoimento foi prestado no dia 3 de maio.

Mantega foi alvo da 34.ª fase da Lava Jato, batizada como Arquivo X, em setembro do ano passado, quando chegou a ser preso temporariamente, mas solto no mesmo dia por decisão do juiz Sérgio Moro. Na ocasião, ele foi detido por agentes da PF quando acompanhava a mulher em uma cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Nos documentos entregues por Joesley para a PGR, está uma planilha com o registro de pagamentos mensais para uma empresa de Sandri, a Gran Tornese Adminstração.

O site O Antagonista informou ainda que a Gran Tornese Incorporações tem como sócia a offshore Ridway Inc, administrada pela Sucre & Sucre Trust Limited, nas Ilhas Virgens Britânicas. Em dezembro de 2014, a Sucre & Sucre foi advertida por violar as seções 23 e 30 do Código de Boas Práticas contra a Lavagem de Dinheiro e o Financiamento ao Terrorismo.

O termo de colaboração 1 do empresário Joesley Batista descreve o fluxo de duas ‘contas-correntes’ de propina no exterior, cujos beneficiários seriam os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. O empresário informou à Procuradoria-Geral da República que o saldo das duas contas bateu em US$ 150 milhões em 2014. Ele disse que Mantega operava as contas.

Zelotes. Mantega havia prestado depoimento para a Polícia Federal, em 2016, no âmbito da Operação Zelotes, que investiga suposta manipulação de julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), braço do Ministério da Fazenda que funciona como uma espécie de ‘tribunal da Receita’ – julga recursos de empresas contra multas aplicadas pelo Fisco.

Mantega já havia sido questionado sobre sua ligação com Sandri. Ele afirmou que manteve “relações comerciais” com o empresário, que teria sido beneficiado por um julgamento do Carf. O ex-ministro declarou que o conheceu na década de 1990, “por ocasião de um negócio imobiliário”.

“Na época, eu sequer era ministro da Fazenda”, disse Mantega.

O ex-ministro relatou que herdou do pai dois terrenos na Vila Olímpia, “na ocasião em pleno desenvolvimento”.

“Sandri era dono de uma construtora, viu os terrenos ociosos e me consultou sobre a possibilidade de fazermos uma incorporação. Eu daria os meus terrenos e receberia em pagamento algumas unidades do edifício que iria ser construído”, contou Mantega.

Segundo ele, a primeira operação, com um dos terrenos, foi executada por volta de 1990. A outra, alguns anos depois.

“Conheci Sandri nessa operação negocial e nunca mais tive contato com ele, foi um relacionamento estritamente profissional”, reiterou Guido Mantega.

O ex-ministro revelou que ‘esteve em uma única ocasião’ com o empresário depois do negócio realizado entre ambos. “Houve, de fato, um encontro. O Sandri tem um sítio, uma propriedade a 30 quilômetros de Ibiúna (Grande São Paulo), onde tenho uma casa. Depois de concluído aquele negócio, uma única ocasião nos encontramos. Ele (Sandri) me convidou para jantar para celebrarmos a entrega das obras. Foi o único contato que tivemos afora as reuniões que ocorreram para o estabelecimento daquela incorporação.”

Lava Jato. Mantega também é peça central nas apurações da Lava Jato, em Curitiba. Ele foi apontado pelos delatores da Odebrecht como sucessor do ex-ministro Antonio Palocci no controle da “conta Italiano” e “Pós-Itália”, que chegou a ter R$ 128 milhões em favor do PT e suas campanhas presidenciais.

Mantega é citado especificamente no acerto de R$ 50 milhões, em 2009, quando foi aprovada a Medida Provisória 470/2009, do Refis da Crise – que concedeu incentivos fiscais para empresas, entre elas, a Odebrecht. O ex-ministro também teria pedido outros R$ 100 milhões, em 20013, para ser usado na campanha de reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff.

O empresário Marcelo Odebrecht – preso em Curitiba, desde junho de 2015 – afirmou que o valor seria pago pela Braskem, que foi beneficiada com a aprovação do Regime Especial da Indústria Química, que também concendeu incentivos fiscais para o grupo e empresas do setor petroquímico.

Mantega, segundo conta Odebrecht, escreveu em um papel “R$ 50 milhões”, que era a expectativa dele de contribuição do  em um pedaço de papel.

A defesa de Mantega nega recebimentos e acertos de propinas e garante que não há tratativas de delação premiada.

A defesa de Sandri não foi localizada. o espaço está aberto para manifestações.