sábado, 2 de junho de 2018

Greve dos caminhoneiros serviu para acabar com as ilusões dos entusiastas da intervenção militar


A greve dos caminhoneiros provocou um enorme estrago na economia do país, mas o movimento grevista foi crucial para sepultar uma antiga aspiração de parte dos brasileiros: a possibilidade de ocorrer algum dia uma intervenção militar no Brasil.

Os entusiastas da volta do regime militar apostaram todas suas fichas no apoio ao movimento grevista dos caminhoneiros e há quem diga que houve até mesmo financiamento de ativistas infiltrados em meios aos manifestantes. A expectativa geral era mesmo a de criar um clima de caos de desabastecimento até que a situação se tornasse insuportável. Os articulistas de grupos intervencionistas acreditavam que após instalada uma convulsão social generalizada, os militares entrariam no jogo, assumindo o governo brasileiro, desmantelando o Congresso Nacional e prendendo todos os políticos investigados por supostos envolvimento em esquemas de corrupção.

Mas o sonho com a redenção verde oliva começou a se desvanecer quando o presidente Michel Temer anunciou o uso das Forças Armadas para ajudar a conter o ímpeto revolucionário de parte do movimento grevista dos caminhoneiros. O pesadelo dos intervencionistas tornou-se ainda mais aterrador quando parte das entidades assinou um acordo inicial com o governo e retirou sua tropa de caminhoneiros da batalha. Nesta primeira fase das negociações para conter o movimento grevista, o governo conseguiu diminuir em cerca de 70% o contingente de grevistas. Na sequência, um novo acordo com a maior entidade de caminhoneiros autônomos minou em mais 20% o poder de mobilização dos grevistas. Por fim, sobraram apenas pequenos focos de resistência pulverizados pelo país, que foram facilmente debelados pelas forças de segurança. O movimento grevista que alimentou as esperanças dos intervencionistas sucumbiu ao fim de dez dias.

Como se não bastasse, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica fizeram pronunciamentos incisivos refutando qualquer possibilidade de ocorrer a volta de um regime militar no Brasil. Praticamente todos os integrantes da alta cúpula das Forças Armadas se pronunciaram contrários a qualquer forma de intervenção militar no país e reafirmaram o compromisso com a Democracia. 

Como se não bastasse, até mesmo a turma de pijama que vivia falando em linguagem cifrada sugerindo que as Forças Armadas estariam se preparando para o grande momento sonhado pelos intervencionistas recuou. 

Os elucubradores do imaginário dos intervencionistas foram instados a vir a público para desdizer tudo aquilo que andaram insinuando nos últimos anos. Figuras cultuadas entre os intervencionistas, inclusive muitos que que exploraram as expectativas destes grupos de forma política, tiveram que reconhecer que iludiram muita gente com seus discursos de caserna.

Não é de hoje que milhões de brasileiros cultivam o sonho da volta dos militares ao poder. Entretanto, no que depender da atual geração de militares, como ficou claro, não haverá uma intervenção militar no Brasil tão cedo. 

A greve dos caminhoneiros serviu para sepultar este sonho cativado secretamente por milhões de cidadãos esperançosos de que somente um regime militar seria capaz de dar um jeito do país. 

O sonho acabou. Está na hora de acordar e encarar os fatos.